Casamento em Jericó – Por Dom Wilson

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Casamento em Jericó – Por Dom Wilson

Ao comentar a Parábola do Bom Samaritano, os Santos Padres chamam a atenção para o fato de que o homem que foi assaltado fazia a estrada de Jerusalém para Jericó. Jerusalém é o lugar do encontro com Deus. Jericó é a cidade que oferece as coisas do mundo. Na vida, quem faz esta viagem é invariavelmente assaltado por muitas coisas que o deixarão como morto. Não é diferente no matrimônio. Como seria um casamento buscando as coisas que “Jericó” oferece? Fixando o olhar na atualidade dos nossos dias é possível destacar alguns traços.

Uma das características do casamento em “Jericó” é viver a sexualidade sem procriar. Uma gravidez é vista como ameaça, como indesejável. Há muito mais esforço em evitá-la do que em buscá-la. Este modo de viver a sexualidade não constrói vínculos duráveis, não leva a construir uma família. A relação sexual é vivida como um jogo, desvinculado de qualquer responsabilidade.

Outra característica do casamento em “Jericó” é a procriação separada do exercício da sexualidade e do amor – a fecundação artificial. Desta forma, a procriação se torna uma atividade produtiva que segue a lógica capitalista. O filho deixa de ser um dom de Deus e do amor conjugal para se tornar um produto de tecnologia.

A cultura moderna dá sempre mais ênfase à realização individual sem interferência de outros. Levanta suspeita sobre a possibilidade de construir uma vida de comunhão com outros. O outro já foi definido como lobo (Hobbes) e como inferno (Sartre). É muito exaltada a imagem do vampiro e do predador que destrói as outras pessoas para poder viver. O possível vínculo com outra pessoa é visto como uma amarra indesejável. O ideal é ficar livre de qualquer relacionamento mais profundo.

Na “Jericó” de todos os tempos reina a mentalidade que o outro é um adversário que deve ser derrotado. Só assim se consegue afirmar a sua dignidade. Prevalece também a mentalidade utilitarista que reduz o outro a um mero instrumento da própria conveniência. Oferece ainda uma cultura da banalidade que vende a ideia de que é possível fazer da vida uma constante diversão. Anuncia estas precariedades como grande conquista. Na realidade geram grande sofrimento. Quem busca a estrada de Jericó para a sua vida, certamente será assaltado e ferido de morte. Não é diferente com o casamento construído com as coisas de “Jericó”.

Por: Dom Wilson Tadeu Jönck, Arcebispo de Florianópolis

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