Neste ano em que se celebram os 40 anos do Documento de Puebla, vêm à tona a opção da Igreja pelos pobres. A realidade social de nosso país e de nosso continente mostra que aumenta assustadoramente o número de pobres e até de miseráveis, pessoas que não têm o mínimo necessário para viver com a dignidade de filhos de Deus. Essas situações de injustiça e pobreza extrema são um sinal acusador de que a fé cristã não teve (e não tem) a força necessária para mudar as relações sociais e as decisões políticas (DP 437). É preciso que nossa fé seja firme e forte, a ponto de converter corações e transformar estruturas.

Realidade desumana

No Documento de Medellín, de 1968, na busca para atualizar no continente as decisões do Concílio vaticano II (1962-1965), os bispos latino-americanos decidiram que não iam ficar indiferentes “perante as tremendas injustiças sociais existentes na América Latina que mantêm a maioria de nossos povos numa dolorosa pobreza e que, em muitíssimos casos, chega a ser inumana” (DM 14,1). Por isso, convidaram a todos, sem distinção de classes, para aceitar e assumir a causa dos pobres, como se estivessem aceitando a causa do próprio Jesus.

Predileção de Jesus

De fato, a opção pelos pobres não têm fundamentação social, política ou econômica, como dizem alguns críticos da Igreja. A opção pelos pobres se baseia na prática de Jesus de Nazaré. Pois, “a evangelização dos pobres foi para Jesus um dos sinais messiânicos e será também para nós sinal de autenticidade evangélica” (DP 1130). Assegurou o papa Bento XVI no discurso de inauguração da Conferência de Aparecida: “a opção preferencial pelos pobres está implícita na fé cristológica naquele Deus que se fez pobre por nós, para nos enriquecer com sua pobreza” (DAp 392).

Amor incondicional

A opção pelos pobres não é feita por motivos estratégicos, para crescer o rebanho católico, para manter o povo na ilusão e, assim, poder garantir influência ideológica. Essa opção é feita sem condições, por um amor incondicional, como o amor do próprio Deus. Pois, “os pobres merecem uma atenção preferencial, seja qual for a situação moral ou pessoal em que se encontrem” (DP 1142), pois neles a imagem de Deus é obscurecida e até escarnecida. Trata-se de uma questão de fé em Deus-Pai e de amor a todos os seus filhos.

Publicado na edição de maio de 2019, do Jornal da Arquidiocese, página 05

Por Pe. Vitor Feller

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