Dom João Becker – Primeiro Bispo de Florianópolis

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Dom João Becker – Primeiro Bispo de Florianópolis

bispo01_djoaoDom João Becker Filho de Carlos e de Catarina Becker, nasceu Dom João Becker a 24 de fevereiro de 1870 em S. Wendel, Bispado de Trier. Na sua primeira infância, a família emigrou para o Rio Grande do Sul, na zona do Caí. Seu pai sempre desempenhou a função de professor primário, desde cedo introduzindo o filho na vida estudantil. Dotado de rara inteligência, ajudava o pai nas tarefas de tomar as lições dos alunos, ele mesmo, às vezes, explicando-as. Tendo estudado em particular com os Jesuítas, matriculou-se depois no tradicional Colégio Conceição, onde quase sempre obteve a nota máxima. Cursou os Preparatórios exigidos para os cursos de Medicina e Direito.

Deus, porém, o chamava para outra missão. Assim, aos 21 anos, em 1891 matriculou-se na primeira turma do Seminário Diocesano de Porto Alegre, naquele ano inaugurado por Dom Cláudio José Ponce de Leão. Brilhante aluno de Filosofia, onde defendeu teses elogiadas pelo grande jesuíta Pe. Dr. Jacob Faeh, em 1893 matriculou- se nos estudos teológicos. Concluída a formação acadêmica, recebeu as ordens do Subdiaconato e Diaconato em 30 de novembro de 1894 e 30 de novembro de 1895, respectivamente. O Bispo de Porto Alegre, Dom Cláudio, conferiu-lhe a ordenação presbiteral a 2 de agosto de 1896, na capela do Seminário Diocesano.

Vigário em Porto Alegre

Dois dias depois foi nomeado Vigário da Paróquia do Menino Deus, na capital gaúcha. Pe. João Becker destaca-se pela piedade e pelo zelo na ação pastoral. Em pouco tempo consegue, graças à sua amabilidade e solicitude, mudar a fisionomia da Paróquia. Admirava-se sua força de trabalho, ainda mais partindo de um sacerdote jovem, de compleição frágil e delicada. Grande amor dedica o sacerdote ao estudo. Após um dia de trabalho, noite adentro o Vigário ia aprofundar os conhecimentos de grego, hebraico, História da Igreja e Direito Canônico. As horas de lazer eram dedicadas ao cultivo das Letras, dominando quase perfeitamente a linguagem portuguesa e notabilizando-se como jornalista e orador sacro. O jornalista Evandro Ribas a ele se refere como homem de “caráter ilibado, reputação impoluta, talento real, grande ilustração, extrema piedade, grande caridade, inexcedível zelo, aliados a um trato fidalgo e extrema gentileza”.

Primeiro Bispo de Florianópolis
É este sacerdote que a Santa Sé elegeu primeiro Bispo da recém-criada Diocese de Florianópolis, em 3 de maio de brasao_djbecker1908. Dom Cláudio José Ponce de Leão, coadjuvado por Dom João Francisco Braga (Bispo de Curitiba) e Dom João Antônio Pimenta (Auxiliar de Porto Alegre), conferiu-lhe a ordem do Episcopado na Igreja de N. S. das Dores, em Porto Alegre, aos 13 de setembro de 1908, com grande representação popular e de autoridades catarinenses, que queriam ao máximo prestigiar os inícios da vida do Bispado florianopolitano. Sob enorme afluência de público, com a presença maciça do Clero, contando entre eles o lendário e santo Frei Rogério Neuhaus, OFM, Dom João Becker foi empossado na Diocese de Floria- nópolis em 12 de outubro de 1908. O Pe. Dr. Gercino de Oliveira, jovem sacerdote tijucano formado no Pio Latino de Roma, lê a Bula de Eleição. Está presente ao ato o Sr. Bispo de Curitiba, Dom João Francisco Braga, até esta data Administrador Apostólico.

Apesar de sua curta permanência à frente do Bispado de Florianópolis, Dom João Becker não economizou esforços para organizar a vida católica catarinense, trabalho iniciado e continuado com grande fecundidade pelo Pe. Francisco Topp. Homem dado ao trabalho intelectual, à precisão dos conceitos, muito estimulou a expansão das Escolas Paroquiais, para ele a solução do problema da ignorância religiosa: sem instrução torna-se muito difícil uma verdadeira e própria formação cristã. Em Blumenau, com o auxílio dos Padres Franciscanos, foi fundada a Escola Normal para professores que depois seriam nomeados para as Escolas Paroquiais. A formação de professoras era garantida pelo Colégio Sagrada Família, das Irmãs da Divina Providência, fundado graças aos bons ofícios do Pe. Topp, em Florianópolis.

Escolas Paroquiais

As mesmas Irmãs fundam mais 5 Colégios e 2 Escolas. Dois Colégios são iniciados pelas Irmãs Apóstolas do Coração de Jesus, e as Irmãzinhas da Imaculada Conceição de Nova Trento fundam uma Escola. Ao mesmo tema, Dom João Becker dedica sua Carta Pastoral de 1910, afirmando que não há uma verdadeira paróquia sem uma Escola Paroquial. A insistência no ensino deve ser creditada em boa parte à inexistência de Instrução religiosa nas Escolas oficiais, face à separação entre Igreja e Estado, operada pela República em 1890. Muito o preocupou o problema da formação sacerdotal. Aqui encontra apenas dois sacerdotes catarinenses, o de Laguna e o de Santo Antônio de Lisboa. Velhos. Outros sacerdotes havia, mas tinham demandado outras regiões. Houve até algum melindre com a nomeação de um gaúcho – e alemão – para o Bispado… Não conseguiu fundar um Seminário, pela ausência de formadores e de condições financeiras. Enviou os vocacionados para Porto Alegre. Refere-se ao problema na Carta Pastoral de 1912 Sobre o Clero e sua Missão Moderna.
Outras Cartas Pastorais, que totalizaram cinco: Sobre a dignidade e os deveres do Bispo, saudando os diocesanos (1908), Sobre a Ação Social (1911) e a de Despedida em 1912. Dom João Becker dava extrema importância às Cartas Pastorais, praticamente escrevendo uma a cada grande momento que surgia na vida eclesial ou nacional. As escritas em Porto Alegre são volumosas, vendidas nas Livrarias como livros de leitura e de instrução.

Organização da vida pastoral
Em janeiro de 1912, Dom João Becker promoveu um Congresso Sacerdotal para tratar de assuntos disciplinares, quando foi organizada uma “Tabela Diocesana” e o “Regimento de Custas da Câmara Eclesiástica”. O tema disciplinar já havia sido tratado no 1º Sínodo Diocesano, realizado de 31 de janeiro a 2 de fevereiro de 1910 em Florianópolis, após o Retiro do Clero. O 1º Sínodo dividiu o Bispado em 10 comarcas – atualmente chamadas de foranias – , substituindo as antigas 4, que não mais atendiam às necessidades pastorais.

Eram elas, com as Paróquias correspondentes: Joinville (São Francisco, Araquari, São Bento, o Curato do Rio Vermelho (de São Bento) e a projetada Paróquia de Jaraguá); Blumenau (Gaspar e o Curato de Rodeio); Itajaí (Barra Velha, Penha, Camboriú e Porto Belo); Brusque (Tijucas, São João Batista e o Curato de Nova Trento, ficando o de Azambuja isento); São José (São Miguel, São Pedro de Alcântara, Santo Amaro, Enseada do Brito e o Curato de Teresópolis); Laguna (Garopaba, Vila Nova, Mirim, Imaruí e Pescaria Brava); Tubarão (São Ludgero, Jaguaruna e as Capelas Curadas de Azambuja do Sul e Orleães); Urussanga (Araranguá, os Curatos de Cocal e Criciúma e a Capela Curada de Nova Veneza); Lages (São Joaquim, Curitibanos e Campos Novos); Florianópolis (Trindade, Lagoa da Conceição, Ribeirão da Ilha, Rio Vermelho, Canasvieiras e Santo Antônio de Lisboa). Criou as novas paróquias de Canoinhas, Nova Veneza, Luiz Alves, Botuverá e Jaraguá do Sul, todas em 1912. E os Curatos de Cocal (1910), Massaranduba (1911), Ascurra (1912) e Rio dos Cedros (1913).

Pelas suas origens, podese logo ver que as novas Paróquias e os Curatos situam-se nos centros de imigração alemã, italiana e polonesa, cujas populações organizavam-se e cresciam rapidamente, mudando praticamente as feições do antigo Estado. O Clero, assim, será mais alemão, italiano e polonês, quase inexistindo o nacional. Encontrou aqui as Or- dens dos Jesuítas (das Províncias Romana e Alemã), dos Franciscanos (da Província alemã de Santa Cruz da Saxônia) e a Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus – Dehonianos. Franciscanos e Dehonianos, aqui chegados graças aos bons ofícios do Pe. Topp. Para melhor conhecer seu rebanho, por 12 vezes saiu em Visita Pastoral, visitando todas as Paróquias uma vez e boa parte pela segunda. A distância total percorrida em Visita Pastoral atingiu, segundo Mons. Topp, cerca de 6.400 quilômetros. Estimulou a pregação geral de Santas Missões, que tota-lizaram 91. Nessa iniciativa foi socorrido pelos Lazaristas Pes. Henrique Lacoste e Manoel Gon-záles, e pelos Padres Franciscanos e Jesuítas.

Arcebispo de Porto Alegre

Estava realizando sua segunda Visita Pastoral, quando lhe chegou a notícia de que tinha sido promovido a Arcebispo Metropolitano de Porto Alegre, a Arquidiocese de que Florianópolis passou a ser sufragânea desde 25 de outubro de 1910, quando foi desmembrada do Arcebispado do Rio de Janeiro. O velho Arcebispo de Porto Alegre, Dom Cláudio José Ponce de Leão, resignara.

A data de nomeação foi 1º de agosto de 1912. Em 8 de dezembro seguinte, festa da Imaculada Conceição, tomou posse do Arcebispado de Porto Alegre, continuando como Administrador Apostólico de Florianópolis até 7 de setembro de 1914. A Diocese ficou praticamente sob o governo de Mons. Francisco Topp, nomeado Governador e Provisor do Bispado. Em Porto Alegre, Dom João desenvolveu fecundo apostolado, enfrentando com prudência e habilidade os novos momentos que viveu a Pátria; a nacionalização sucessiva à 1ª Guerra, a crise da República Velha, o Estado Novo, a 2ª Guerra. Deu início às obras da nova e imponente Catedral. Aos 76 anos, faleceu Dom João Becker em Porto Alegre. Era 15 de junho de 1946.

Fonte: Pe. José Artulino Besen – Jornal da Arquidiocese, Novembro-Dezembro/07, Pág 09.

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