A fé nos hospitais: padres partilham presença da Igreja durante o enfrentamento à Covid-19

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A fé nos hospitais: padres partilham presença da Igreja durante o enfrentamento à Covid-19
Foto de 2019, antes da pandemia de Covid-19.

Com a chegada e propagação do coronavírus, hospitais e unidades de saúde tiveram que tomar medidas mais radicais para o pleno atendimento dos casos confirmados e suspeitos de Covid-19, entre elas restringir o acesso de capelães e voluntários. Porém, vários padres continuam a acompanhar profissionais de saúde e famílias de pacientes através de ligações e mensagens.

Pe. Melquisedec de Almeida: a fé é fundamental

Desde que o Governo do Estado definiu o Hospital Florianópolis como a unidade de referência no atendimento à Covid-19 na Região Metropolitana da capital, o Pe. Melquisedec de Almeida não pode visitar a unidade já que 100% das atividades do local são dedicadas ao atendimento dos casos. Mesmo assim, mantém o contato com médicos e enfermeiros que o procuram em busca de consolo e palavras de encorajamento. “No início da pandemia foi dificílimo para eles e contínua sendo difícil, e eles vem encarando este desafio pela fé!”, testemunha o padre.

Desde junho de 2017, Pe. Melquisedec atua na Pastoral da Saúde, visitando o hospital todas as sextas-feiras, às 16h, com celebração da missa na capela e, em seguida, visita aos enfermos, leito por leito, levando uma palavra de conforto e esperança. Também administrava o sacramento da Unção dos enfermos para os que solicitavam e evangelizava sobre a importância deste sacramento. Por isso, os laços criados com a equipe da unidade se fortaleceram neste momento difícil.

“O papel da fé neste tempo é fundamental! O Papa Francisco, em agosto de 2019, afirmou que a fé autêntica e madura é capaz de iluminar muitas ‘noites’ da vida! Estamos contemplando com nossos olhos uma sociedade mais solidária! É o lema da Campanha da Fraternidade: ‘Viu, sentiu compaixão e cuidou dele’! E aqui está o papel da fé: iluminar as noites do comodismo, do egoísmo. Neste tempo, o povo vem se aproximando mais de Deus e se tornando mais solidário”, explica Pe. Melquisedec.

Para o sacerdote, o momento é de esperança. “Vamos aproveitar este tempo para fazer a experiência com o Deus da esperança, pois tudo passa, só Deus permanece. A pandemia se findará e Deus estará sempre enchendo os nossos corações de esperança!”, conclui.

Pe. João B. Assunção: presença mesmo na distância

Além de ser pároco da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, no bairro Fazenda, em Itajaí, Pe. João B. Assunção também exerce a função de capelão do Hospital Marieta Konder Bornhausen há mais de um ano. Um dos principais hospitais da região para o atendimento e tratamento dos casos de Covid-19, o Marieta também restringiu o acesso à unidade e, por isso, Pe. João tem acompanhado tudo à distância, sempre pronto para auxiliar como for preciso.

“Desde o início da pandemia tudo ficou muito triste, nada mais como era antes. Já não é mais possível dar um abraço confortador e sabemos que nada substitui a presença física junto ao enfermo e seus familiares. Lamento não poder visitar os pacientes infectados, os que mais precisam, mas infelizmente encontram-se isolados até de seus familiares. Enquanto padre, sinto-me muito triste ao saber que ali existem pessoas precisando desesperadamente de uma atenção espiritual, de uma benção, e não poder fazer nada, só rezar a distância”, revela Pe. João.

Segundo ele, a espiritualidade auxilia a interpretar os acontecimentos diante da crise. Crer em algo que transcende ajuda a superar com segurança as consequências da pandemia. “A pessoa religiosa procura ter pensamentos saudáveis e isto ajuda a superar melhor a doença e até mesmo, no caso dos profissionais de saúde, o trabalho estressante. Na verdade, eu sinto que tanto os profissionais quanto os pacientes não precisam de muita coisa, apenas um pouco de atenção, um ombro amigo, alguém que os escute e os apoie”, reforça o sacerdote.

Pe. Almir José de Ramos: criatividade para levar esperança

Há cinco anos, Pe. Almir José de Ramos exerce diversas atividades no Hospital Regional de São José. Além da atuação na Pastoral Hospitalar, em que celebra missas, administra sacramentos e acompanha pacientes, acompanhantes e funcionários, o padre coordena o trabalho de visita religiosas das diversas Igrejas que atuam no hospital; coordena o trabalho das Penas e Medidas Alternativas, que acompanha um grupo de pessoas que prestam serviço comunitário na unidade; e a Casa de Apoio São José, que acolhe pacientes e acompanhantes em tratamento no hospital. Por isso, ainda tem acesso à unidade, mesmo que estando sozinho neste serviço.

“Todos os dias tenho contato com os profissionais de saúde. Inicialmente alguns ficaram mais apreensivos, mas com o tempo foram se tranquilizando. Já atendi pessoas que vieram pedir oração ou bênção porque estão agitadas, tristes ou com medo. Também acompanhei aqueles que buscaram se proteger pegando atestado médico ou outra forma de afastamento, alguns com muito sofrimento pois estavam no grupo de risco e tiveram que se distanciar do serviço e dos colegas. Percorrendo os corredores e adentrando os quartos do hospital, percebo a esperança no olhar das pessoas. O medo, às vezes, é grande, mas a fé e a esperança são maiores.”, descreve o presbítero.

Para Pe. Almir, a Igreja pode contribuir muito neste tempo. “Hoje em dia as redes sociais têm um papel importantíssimo na vida das pessoas. Como muitos padres, bispos e outros agentes de pastoral não podem estar presente nesses espaços, pode-se usar essas mídias para chegar até essas pessoas. A criatividade nesses momento é fundamental. Esses dias tivemos um coral de uma de nossas comunidades que vieram cantar no estacionamento do hospital no horário da troca de plantão. Enquanto os diversos profissionais saiam e chegavam, o coral cantava músicas religiosas, animando e agradecendo esses heróis”, relata ele.

“Estamos passando por uma tempestade, mas sabemos que a tempestade passa. Espero que, após isso, possamos nos tornar mais fortes, mais humanos, mais solidários. Que o ser humano esteja no centro de nossas ações. Que possamos doar um pouco do nosso tempo para ajudar os outros. Que a fé seja nosso guia e que não percamos a esperança.”, conclui.

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Reportagem publicada na edição de junho de 2020 do Jornal da Arquidiocese, página 7.

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