Da emergência à recuperação: Moçambique, Zimbabué e Malaui cinco meses após os ciclones Idai e Kenneth

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Da emergência à recuperação: Moçambique, Zimbabué e Malaui cinco meses após os ciclones Idai e Kenneth

Aos poucos, a vida  volta ao normal, mas ainda há muito a ser feito nas áreas afetadas e na ajuda às famílias atingidas

Joseanair Hermes (colete caqui) e equipe Cáritas na cidade de Beira em Moçambique

Após a fase de emergência, junto com as famílias atingidas, a Cáritas inicia a etapa de reconstrução, com orçamento de 9,80 milhões de reais. Os trabalhos vão decorrer ao longo dos próximos 12 meses, nas províncias afetadas pelos ciclones Idai e Kenneth que deixou milhares de pessoas desabrigadas nos países de Moçambique, Zimbabué e Malaui. A ação será coordenada pela Cáritas Internacional com as doações das Cáritas do mundo inteiro.

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Joseanair Hermes, da Cáritas Brasileira, integra a equipe de Programa de Emergência da Cáritas Internacional, está atuando na cidade de Beira, em Moçambique. Ela afirma que neste momento de reconstrução é fundamental a ajuda da comunidade internacional.

Anita Lopez Paulo, com o netinho
Foto: David O’Hare/Caritas

“Nossa proposta para reconstrução é de levantar 186 casas só na Diocese da Beira e o primeiro critério de seleção é para mulheres e crianças chefes de família”, conta Joseanair. Com o ciclone, muitas crianças ficaram órfãs e, sem alternativas, tornam-se chefe de família. “Também pretendemos distribuir alimentos para duas mil famílias por um período de sete meses que é o tempo da escassez”, revela Hermes.

O apoio da Cáritas será em três linhas de atuação: agricultura e meios de subsistência, água, saneamento e construção de casas e abrigos. Pois, com a magnitude sem precedentes dos ciclones que atingiram a região em março e abril deste ano, muitas pessoas perderam a vida e 1,8 milhões de pessoas foram afetadas. Aproximadamente 240 mil casas foram atingidas e 111 mil destruídas.

A avaliação das necessidades pós-desastres feita em conjunto pelas Nações Unidas, o Banco Mundial e a União Europeia destaca que Moçambique precisa de 3,2 milhões de dólares para reconstrução. “Essa quantia nos dá a noção do impacto sofrido pela população e também revela a importância de se investir na preparação e na redução dos riscos de desastres e perda de vidas e de meio de subsistência quando desastres como esse acontecem”, enfatiza Joseanair.

“Após o período de emergência, que foram os três primeiros, iniciamos o período de reconstrução, e aqui falamos de reconstrução das vidas. As pessoas querem voltar a sentir que estão sobrevivendo com as suas próprias mãos. A sua ajuda é fundamental para que essas pessoas possam voltar a sonhar e ter uma vida mais digna”, destaca Hermes.

As famílias atingidas – Anita Lopez Paulo (34) e o esposo Juan Carlos (45), têm seis filhos, com idades entre 8 a 23 anos e cinco netos, todos com menos de 3 anos. “No dia do ciclone os ventos começaram a soprar à tarde, mas logo vimos que havia uma ameaça real. Estávamos nos escondendo em nossa casa quando o telhado foi arrancado. Corremos para um anexo que estava cheio de lama e nos abrigamos. Ficamos de pé a noite toda com as mãos sobre as nossas cabeças. No dia seguinte, as inundações vieram de ambos os lados. Eu tive de pegar meu neto de três semanas de idade, eu pensei que ele iria se afogar, corremos para a escola em busca de abrigo. Perdemos tudo – nossas roupas, roupas de bebês, utensílios, documentos”, narra Anita.

“Nós moramos aqui há dez anos. Somos agricultores camponeses, trabalhamos em três hectares de cultivo de milho, arroz, tomate, batata-doce e mandioca. Perdemos tudo, tudo”, conta Juan.

“Nós estávamos realmente com medo porque vimos muitas pessoas se afogarem e as casas foram levadas pelas inundações. Tentamos remendar o telhado da melhor maneira possível quando voltamos, mas não tínhamos materiais como pregos. Nossas colheitas foram totalmente destruídas. Nós estamos indo para a escola para obter uma xícara de arroz ou feijão por dia para toda a família. Esses dias consegui salvar um pequeno cacho de bananas para nos alimentarmos, descreve Anita.

Por Osnilda Lima – Cáritas Brasileira

ÁfricaCáritas

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