Artigo: Palavra e silêncio

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Artigo: Palavra e silêncio
Foto: Fabíola Goulart

No mês de setembro, a Igreja do Brasil celebra a Bíblia, a Sagrada Escritura. A Bíblia é o livro, que contém a Palavra de Deus. Ela é sacramento da Palavra de Deus; se não for lida, meditada, rezada e praticada a Bíblia vira decoração, pode até tornar-se um ídolo.

Diversidade de palavras
Vivemos em meio a muitas palavras. Temos a palavra de formadores: formam a opinião pública, pautam valores. Há a palavra de meros informadores: ressaltam notícias, fazem reportagens, enriquecem nosso conhecimento, nossa cultura. Há os deformadores: criam vícios, esfacelam a personalidade de nossas crianças e jovens.

Qual palavra forma ou deforma nosso caráter? Forma ou deforma nossas novas gerações? A palavra nos educa, marca nossa agenda e aponta compromissos, vai frisando atos, atitudes, vai formatando hábitos. Que podem tornar-se vícios ou virtudes. Somos feitos pela palavra. De nossos pais, professores, catequistas, padres. Ou somos deformados pela palavra do mundo, da vantagem sobre todas as coisas, da lei do menor esforço, do salve-se quem puder, do egoísmo.

No silêncio, a Palavra
A Palavra acontece no silêncio. O Pai é o silêncio eterno, no qual a Palavra é gerada como Filho, que se faz ação no Espírito Santo. Sem silêncio não há Palavra nem ação. O silêncio é o vazio interior, lugar da contemplação, oração, escuta; sem silêncio a Palavra se perde, se degenera.

No turbilhão de palavrórios, homenagens, gritos, estridências, opiniões, estrelismos…, onde se encontra a Palavra? Quando enfiamos um monte de coisas em nossas missas, estamos a sufocar a Palavra de Deus. Então Deus humildemente se retira; não vai competir com nossas vãs pretensões. Sua Palavra é simples e vulnerável, não se casa com a força humana; é a Palavra da cruz. A Palavra de Deus reclama silêncio, interioridade.

Palavra feita ação
Em Jesus de Nazaré o Verbo se fez carne, a Palavra se fez ação. Qual ação? Quantas instituições não refletem a Palavra, não encarnam o Evangelho, não apontam para o Reino. Quanto devocionismo, sacramentalismo, moralismo que não vêm da Palavra, nem a repercutem. Carecemos de silêncio, para que nele a Palavra crie estruturas, gestos e práticas, devoções e ritos.

Essa é a eficácia da Palavra. Ela produz o que pronuncia, constrói a existência; faz acontecer o que proclama; é fala e ação, gesto, movimento, dinâmica.

Artigo publicado na edição de setembro de 2020 do Jornal da Arquidiocese, página 5.

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artigobíbliamês da bíbliaPe. Vitor Galdino Feller

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