Artigo: Fome de Deus – Fome de Pão, por Pe. Vitor Galdino Feller

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Artigo: Fome de Deus – Fome de Pão, por Pe. Vitor Galdino Feller
Foto: Belisario de Jesus/Cathopic

Pela terceira vez a Campanha da Fraternidade traz o tema da fome. Há quem diga que basta de entrar sempre de novo nessas questões sociais, que é mentira que haja fome no país, que a Igreja deve ater-se às questões religiosas e espirituais, que a Campanha da Fraternidade atrapalha a vivência quaresmal. Esses pensamentos provêm de corações que não vivem o amor de Deus Pai, que enviou seu Filho para trazer vida em abundância, vida plena, para todos (Jo 10,10).

Fome de Pão ou Fome de Deus
Se a maior miséria física ou corporal é viver e morrer de fome, a maior miséria espiritual é deixar alguém morrer de fome. Uma sociedade que se diz cristã e católica não poderia suportar a existência de pessoas necessitadas em seu meio. É uma vergonha para a nossa fé, um empecilho na obra da evangelização, uma contradição entre a religião professada e a prática. A realidade da fome é um sinal de quanto essa sociedade é miserável e miserenta. Pois a fome de Deus não será saciada sem a saciação da fome de pão de tantos irmãos e irmãs.

A dimensão corporal do Reino
O anúncio do Reino de Deus foi a prática central de Jesus. O Reino, que não é nosso, mas de Deus-Pai, realiza-se em quatro dimensões, em relação com as quatro dimensões que, segundo as Escrituras, constituem o ser humano e que foram consideradas na missão de Jesus. A dimensão mais visível e imediata é a física, corporal, material. Daí que o anúncio do Reino de Deus implica em lutar pela integridade física, alimentação, saúde, segurança, emprego etc. A exemplo de Jesus, que curou doentes e saciou a fome da multidão, e identificou-se com as pessoas que passam fome: quando destes de comer a um necessitado, foi a mim que o fizestes (Mt 25,40).

Outras dimensões
A evangelização não pode reduzir-se ao empenho pela dignidade da vida física. Há a dimensão psicossocial-cultural, pela qual faz-se necessário engajar-se por bem-estar, educação e cultura, turismo, esporte, direitos humanos, justiça social, democracia etc. Quanto à dimensão psicoafetiva, lembremos que o Reino de Deus traz sentido da vida, bem viver, saúde mental e moral, realização pessoal etc. Há a dimensão religioso-espiritual, para a qual o Reino de Deus é definitivo, é vida eterna, céu, relação com o Absoluto. Essas dimensões se imbricam e interdependem. O ser humano tem fome de todas essas expressões da vida plena. E a evangelização deve estar atenta a tudo isso!

Artigo publicado na edição 298 do Jornal da Arquidiocese, em março de 2023, na página 5.

Fraternidade e FomePe. Vitor Galdino Feller

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