Evolução territorial do bispado de Florianópolis (1908-2007)

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Evolução territorial do bispado de Florianópolis (1908-2007)

I – A área da Diocese de Florianópolis

Inicialmente podemos afirmar que a superfície da Diocese de Florianópolis, criada a 19 de março de 1908, correspondia à superfície do Estado. Quando a Bula “Quum Sanctissimus Dominus Noster” no nº 2 delimita a área a ser separada do Bispado de Curitiba, afirma: “Os limites da Diocese de Florianópolis serão os atuais ou futuros limites do Estado de Santa Catarina, não lhe sendo atribuídas outras áreas do que as que constituem ou constituirão o mesmo Estado”. O acima escrito atesta que não se tinha clareza sobre as reais delimitações geográficas, o que se deve ao problema do “Contestado”.

“Contestado” é o termo utilizado para o território disputado entre os Estados do Paraná e Santa Catarina. O Estado contestado01do Paraná foi criado em 1853, mas nenhum dos três Decretos que tratam de sua criação especificaram-lhe os limites. Surgiu a pendência jurídica. O Paraná reclamava como seus os territórios abaixo do Rio Iguaçu, que pertenciam aos Campos de Palmas por terem sido objeto da colonização paulista. Em sua penetração, apesar dos protestos dos catarinenses, os paulistas chegaram até Lages.

Misturada com motivos políticos, econômicos, sociais, religiosos, surgiu a “Campanha do Contestado”. O território em questão abrangia uma área de 28.700 Km², incluindo o Oeste catarinense à esquerda do Rio do Peixe e mais boa parte de Mafra. A 25 de abril de 1908, para coibir dúvidas e evitar problemas, mais uma vez a Santa Sé determinou que os limites diocesanos acompanhassem os limites civis do Estado. Após grandes e infindáveis discussões nos fóruns jurídicos, da fracassada tentativa de criar o “Estado das Missões” (1910), após a sangrenta e inglória guerra dos “Fanáticos”, a Questão foi resolvida a 20 de outubro de 1916, no Rio de Janeiro, quando o Presidente Wenceslau Braz deu ganho de causa ao Estado de Santa Catarina, cabendo-lhe a maior parte da área contestada. A 7 de Setembro de 1917, nosso Estado entrava na posse definitiva e efetiva dos territórios que lhe couberam pelo Ato.

Ficaram assim constituídos os limites do Estado, que corresponderiam, segundo a Bula “Quum Sanctissimus Dominus Noster”, aos da Diocese de Florianópolis: “a partir do Oceano Atlântico, pelo Rio Sahy-Guaçu, até as vertentes do Rio; destas vertentes, em linha reta, até a nascente do Rio Negro; por este Rio abaixo até seu entroncamento no Rio Iguaçu; pelo Rio Iguaçu até encontrar a ponte da Estrada de Ferro São Paulo – Rio Grande, na cidade de União da Vitória; pelo leito desta Via Férrea até encontrar a Estrada de Rodagem que conduz à cidade de Palmas; por esta Estrada de Ferro até o Rio Jangada; por este Rio acima, até suas vertentes; das vertentes do Rio Jangada, e pelo divisor das águas, até o lugar Barracão, fronteiro à República Argentina.” Os outros limites não foram alterados.

A história religiosa se adeqüou à Questão. A 13 de outubro de 1914, o Bispo de Curitiba, Dom João Braga, e o de Florianópolis, Dom Joaquim Domingues de Oliveira, estabelecem um acordo pelo qual os padres das Paróquias paranaenses (Guaratuba, Paranaguá, São José dos Pinhais, Lapa, Rio Negro, Lucena, União da Vitória e Palmas) pudessem atender confissões e doentes nas Paróquias limítrofes catarinenses, o mesmo valendo para os padres catarinenses limítrofes com Paraná.

Terminando a Questão do Contestado, era preciso fazer as transferências canônicas das regiões que tiveram seus limites definidos. A 14 de setembro de 1917, Dom João Braga escreveu a Dom Joaquim a respeito dos pontos decididos e assentados de transferência de território, marcando o dia 1º de outubro para as transferências das jurisdições dos padres de Itaiópolis, Iracema, Porto União e da parte catarinense de Palmas. Acordam que os padres de Porto União acumularão os cargos em União da Vitória; a igreja matriz de Porto União ficará servindo aos dois territórios (Porto União e União da Vitória); a mesma coisa se estabelece para a matriz de Palmas: as duas matrizes servirão aos respectivos territórios catarinense e paranaense, pois os limites paroquiais não correspondiam aos limites civis. A 1º de outubro de 1917 houve o histórico encontro do Bispo de Curitiba com o de Florianópolis para as trocas de jurisdições.

Foram transferidas para a Diocese de Florianópolis: a) Paróquia de Itaiópolis (criada a 31-12-1901): 6.000 católicos, brasileiros, alemães e polacos; atendidos por 2 padres; 2 capelas: N.S. da Conceição e Moema. b) Curato de Iracema: criado na mesma data, sem território fixo, para atender aos fiéis do Rito Ucraniano (ruteno) da Paróquia de Itaiópolis, assistidos por 2 padres basilianos; 3 capelas: Iracema (sede), Moema e Linha Costa Carvalho; 1 colégio e 1 hospital. c) Parte da Paróquia de Rio Negro: capelas de Rio Preto, Avencal, Butiá, Guavirova, Estiva e Turvo. d) Parte da Paróquia de Porto União (União da Vitória): inclui-se o trecho da cidade do mesmo nome, onde se situam a matriz e Casa Paroquial. Passa para a Diocese de Florianópolis a matriz e capelas dos Tocos, Nova Galícia, Legru (cada uma com duas capelas: uma do rito latino e outra do rito ruteno), São João dos Pobres, Limeira, São Bento, Faxinal Branco, Imbuial, Vicentes. e) Parte da Paróquia de Palmas: os territórios de Xanxerê, Chapecó, Irani, Catanduvas e Gramado.

Resolvida a Questão do Contestado em 1916, ficou definido o território do Bispado de Florianópolis, que coincidia com o do Estado de Santa Catarina, correspondendo a uma área de 95.346,181 Km². Posteriormente, a 17 de janeiro de 1927, quando elevado a Arcebispado com a criação das Dioceses de Lages e Joinville, serão feitas algumas retificações de limites. Foram duas: a primeira em 12 de novembro de 1938 e a segunda em 23 de novembro de 1968. Naquela data a Sagrada Congregação Consistorial aprovou a agregação de parte da Paróquia de Salto Grande (Ituporanga) à Diocese de Lages, estabelecendo os limites do Rio Caeté até o Rio Itajaí do Sul e da antiga estrada de Florianópolis-Lages até o Monte Tanque (a Nunciatura publicou o Decreto em 3 de maio de 1939). Em 1968, Florianópolis transferiu à recém criada Diocese de Rio do Sul as Paróquias de Ituporanga, Vidal Ramos e Alfredo Wagner. Fora isto, evidentemente, houve as alterações territoriais para a criação das Dioceses de Lages, Joinville e Tubarão. Quando da criação da Diocese de Blumenau, em 2000, as Paróquias à margem esquerda do Itajaí-açu passaram àquela jurisdição: Navegantes, Ilhota, Luiz Alves, Penha e Piçarras”.

II – O atendimento pastoral ao Oeste Catarinense

Antes da transferência de jurisdições de 1º de outubro de 1917, a área contestada ficava sob a jurisdição do Bispo de Curitiba. Este a confiara aos Padres Franciscanos de Palmas na parte Oeste, e aos de Lages na parte do Rio do Peixe.

À paróquia de Palmas cabia visitar toda a área do “Grande Chapecó”. Palmas era uma enorme Paróquia, abrangendo praticamente toda a região que vai da cidade com este nome até Foz do Iguaçu, descendo até o Rio Grande. Mais exatamente: tomemos como ponto de partida a cidade de Capanema; subamos o Rio Iguaçu até Porto União; pelo Rio do Peixe desçamos até o Rio Uruguai, perto de Marcelino Ramos; de lá acompanhemos a descida deste até encontrar a Argentina; pelos limites, sigamos até o ponto de partida, isto é, o Iguaçu: isto era a Paróquia de Palmas!
Em 1940 o Município de Chapecó constava de 14.900 Km²: e não era nem a quarta parte da Paróquia. Pode-se afirmar que Palmas abrangia um território correspondente às áreas da Bélgica e Holanda, mais de 62.000 Km²…

Imaginemos o trabalho dos heróicos franciscanos de Palmas, 3 ou 4 sacerdotes para procurar, literalmente “procurar” – o povo naqueles inóspitos sertões. Frei Jacó Hofer, numa carta a Dom Joaquim (11-07-1918), diz que “se multiplicarmos as dificuldades imaginadas por 10, teríamos apenas uma idéia…”. Vão a certos lugares 2 vezes por ano, avisando a visita com 6 meses de antecedência. Os padres estão sempre de viagem. Às vezes as mulas morriam, desfalecidas pelo cansaço. As capelas eram ran- chos feios, sem janelas nem assoalhos, de tábuas rachadas. Apenas as de Xanxerê e de Catanduvas eram forradas. O povo morava em ranchos, às vezes faltando colheres, pratos e garfos. Comiam feijão e milho. Dom João Braga, numa Visita Pastoral, chegou a não comer, tal era o apetite pelo apresentado à mesa episcopal… Higiene, nem se fala.

O Prelado de Palmas, Dom Frei Carlos de Savóia Bandeira de Mello, de ascendência principesca, passou horrores. Dormia em casas sem janelas e portas. Para trocar de roupa, os Frades lhe faziam o papel de janela e porta. Banho, em algum regato ou fonte. Num dia, fala Frei Evaldo Bamberg, o ilustre Prelado, morto pelo calor e sujeira, resolveu banhar-se condizentemente num riacho, sob a assistência do povo. Lavando o que dava, não chegou a 1/3 da área total… Eram outros os tempos. Em 1917, após a transferência das jurisdições, Dom Joaquim entrou em acordo com o Bispo de Curitiba para que os Franciscanos de Palmas continuassem a atender à região de Chapecó. Daria jurisdição aos Padres daquela Paróquia. O próprio Dom Joaquim, em 1919, realizou sua primeira e única viagem pastoral ao Oeste.

Em 1926, instalou-se a Colônia teuto-brasileira de Porto Novo (Itapiranga), obra do jesuíta Pe. João Rick: pleiteava- se uma vila para alemães, e alemães católicos. Uma espécie de república dentro da República, para salvar a etnia, a cultura e a fé. É Dom Joaquim quem dá as orientações para seu atendimento espiritual. Inicialmente pensa em confiá-la aos padres de Palmas. Depois surgiu a idéia de pedir auxílio aos Palotinos do Rio Grande ou aos Padres de Steyl, sediados na Argentina. Prevaleceu a sugestão de entregá-la aos Missionários da Sagrada Família: em 1927, com a criação do curato, este é entregue ao Pe. Ofenhitzer MSF.

Posteriormente os Jesuítas a assumiram definitivamente. Esta situação do Oeste continuou até 9 de dezembro de 1933, quando foi erigida a Prelazia de Palmas que englobava, na parte catarinense, 14.535 Km². Deste modo, o Grande Chapecó deixou de pertencer à Jurisdição canônica catarinense até 14 de janeiro de 1958, quando da criação da Diocese de Chapecó.

III – As novas circunscrições eclesiásticas

A 17 de janeiro de 1927 o Bispado de Florianópolis foi elevado a Arcebispado, deixando de ser sufragâneo de Porto Alegre. Criavam-se as Dioceses de Lages e Joinville. Com este desmembramento, o território do antigo Bispado ficou reduzido a 20.514 Km². No ano de seu Centenário, 2008, a arquidiocese tem a superfície de 7.862,1 k2, com densidade demográfica de 173,91 hab/km2. Em 1908 era uma Igreja diocesana. Agora são 10: Florianópolis (1908), Joinville (1927), Lages (1927), Tubarão (1954), Chapecó (1958), Caçador (1968), Rio do Sul (1968), Joaçaba (1975), Criciúma (1998) e Blumenau (2000).

Fonte: Pe. José Artulino Besen – Jornal da Arquidiocese, Agosto/07, Pág 09 e Setembro/07 Pág 09

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