Vivemos em um mundo cheio de barulho, de ritmo frenético, recheado de superficialidade. A sociedade atual já foi descrita como navio sem rumo, mergulhada em um pensamento débil, de relações “líquidas”. É preciso construir um caminho que leve à profundidade e ao silêncio. É nas águas mais profundas, sob as ordens de Cristo, que se encontra a pesca em abundância. Por outro lado, é nas circunstâncias do cotidiano das pessoas que Deus se manifesta.

A espiritualidade é o que temos de mais autêntico. O ser humano é uma mistura de luminoso e tenebroso, de bem e de mal, de joio e de trigo. A espiritualidade toca este lado mais verdadeiro, mais fiel ao ideal que abraçamos. Todos temos um ideal. Nada, por maior que seja, deve nos prender, nos amarrar. Somos convidados a tomar uma direção oposta à dominação da cultura ocidental atual.

São Paulo escreve aos Romanos “Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da mente, para que possais distinguir o que é da vontade de Deus, a saber, o que é bom, o que lhe agrada, o que é perfeito” (Rm 12,2). É neste mundo que o semeador espalha a semente. E nós não somos enviados a semear, mas para colher. A Igreja é chamada a colher os frutos que o Espírito Santo semeia e cultiva nas várias culturas.

A vida dos santos pode ser um exemplo de como viver neste mundo e transformá-lo. Deus quer ser o protagonista da história dos seres humanos. Conhecemos tantos casos em que Ele se faz presente na vida dos santos. Através da ação dos santos Deus transforma o mundo dos homens. A manifestação da presença de Deus nos santos é capaz de iluminar a caminhada de toda uma comunidade, da sociedade inteira. E tantas vezes, o santo é liberto das armadilhas preparadas pelo mundo em que vive.

Charles de Foucauld, canonizado recentemente, encontrou no silêncio de Nazaré as luzes que guiaram o seu caminho de santidade. Foi em Nazaré que Cristo desenvolveu-se como ser humano. Foi no ambiente da sua família, nos encontros e desencontros daquela comunidade que Jesus cresceu. Não esqueçamos que saiu de lá enxotado. Foi lá que Maria recebeu o anúncio de que seria a mãe do Redentor. No silêncio de Nazaré que Carles de Foucauld encheu-se do mesmo Espírito, construiu um caminho espiritual que o motivou a colocar-se ao serviço dos outros.