O episódio de Emaús é uma catequese historizada contada por São Lucas, algo para se ler, reler e compreender. O eixo principal que envolve o relato é a nova presença do ressuscitado, que tem por fundo uma pergunta: “Como tu interpretas a ressurreição?”. Essa presença de Jesus é experimentável por novas chaves: o itinerário percorrido pela comunidade; a proclamação da palavra; e a fração do pão.
Os discípulos começam sua caminhada afastando-se de Jerusalém, cabisbaixos, creditando seus problemas à condição de Jesus que, para eles, ainda era somente um profeta. Seus olhos estavam como que impedidos de ver a realidade; seus corações estavam endurecidos; era uma visão pré-pascal. Como afirma o cardeal Tolentino, a estrada percorrida pelos discípulos aparece aqui como um lugar teológico, isto é, um espaço em que Deus se manifesta e se encontra conosco por sua livre iniciativa.
Trata-se de uma viagem mistagógica em que o catequista é o próprio Cristo, recriando a fé dos seus através da Sagrada Escritura – Palavra criadora. Na mesa, local em que punham a mão sobre o mesmo pão, reconhecem Jesus pela partilha. Seus olhos se abrem, veem com o coração ardido em amor, e, agora, enxergam Jesus como o verdadeiro Filho de Deus. Eles encaram a realidade com uma visão pós-pascal, que é um conhecimento haurido da maturação da fé cristológica, de uma descoberta que se deu de forma gradual. Tomados de admiração, voltam às pressas para o seio da comunidade, lugar donde todos nós, discípulos do Senhor, recebemos a fé como um dom de Deus e a podemos confirmar com os irmãos.
Que a fé no crucificado-ressuscitado nos faça ouvir o apelo do Papa Francisco: abram as janelas e deixem a esperança pascal impregnar o mundo ao redor.
Nathan Dias da Silva
Seminarista do 2º Ano da Etapa da Configuração (Teologia)