“Queres conhecer o poder do Sangue de Cristo? Repare de onde começou a correr e de que fonte brotou” (São João Crisóstomo)
Com esta reflexão tão bela quanto instigante de São João Crisóstomo, o Espírito Santo nos recorda a narrativa da crucificação de Jesus: “Chegando, porém, a Jesus, como vissem já morto, não lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados abriu-lhe o lado com uma lança e, imediatamente, saiu sangue e água” (Jo 19,33-34).
É do Coração transpassado de Jesus que emanou o Preciosíssimo Sangue, portanto, o Coração Sagrado de Jesus é a fonte de tão sumo bem!
Esta é uma de nossas inspirações neste mês de julho ao escrever sobre tão precioso dom do Pai: a entrega do Seu Filho que nos amou até o extremo (Jo13, 1b) vertendo seu Preciosíssimo Sangue como fonte de misericórdia para nós, a fim de reconciliar-nos com Deus (Rm5,10). Sob o mover do Espírito Santo, sentimos crescer no coração da Igreja uma ardorosa gratidão por tão grande mistério de amor que emana do Sagrado Coração de Jesus, para o qual São João Crisóstomo nos direciona.
Foi do lado aberto de Jesus que jorrou para a humanidade o perdão dos pecados, a salvação e a vida eterna. O céu abriu-se para nós a partir do derramamento do Preciosíssimo Sangue de Jesus na cruz: “A linguagem da cruz é loucura para os que se perdem, mas para os que foram salvos, para nós, é uma força divina” (I Cor 1,17).
Ao acolhermos intimamente Jesus como nosso Senhor e Salvador e reconhecer que por suas chagas e morte de cruz alcançamos a vida eterna, não resta senão sermos uma Igreja Eucarística, adoradora do Preciosíssimo Sangue de Jesus, meio pelo qual a humanidade obteve a expiação dos pecados tornando-se aceitável, de uma vez por todas, diante de Deus.
Na Praça de São Pedro, no dia 5 de julho de 2009, o Papa Bento XVI, explicando a devoção ao Preciosíssimo Sangue de Jesus, dizia: “O tema do sangue, unido ao Cordeiro Pascal, é de primordial importância na Sagrada Escritura. A aspersão com o Sangue dos animais sacrificados representava e estabelecia, no Antigo Testamento, a aliança entre Deus e o povo, como se lê no livro do Êxodo: “Então Moisés pegou o sangue e o espalhou sobre o povo, dizendo: Este é o sangue da aliança que Javé faz com vocês através de todas essas cláusulas” (Ex 24,8).
A esta fórmula Jesus se refere explicitamente na última ceia quando, oferecendo o cálice aos discípulos, diz: “Este é meu sangue da aliança, que é derramado por muitos para o perdão dos pecados” (Mt26,28). E efetivamente, a partir da flagelação, até ter o lado transpassado após a morte na cruz, Cristo derramou todo seu sangue, como verdadeiro cordeiro imolado para a redenção universal.
Assim, outra fonte de eterna inspiração para a Igreja encontra-se naquele dom maior de si mesmo perpetuado e atualizado sobre o altar na Eucaristia, na qual o Cordeiro de Deus renova conosco a eterna aliança firmada no seu Preciosíssimo Sangue. A Igreja é lugar de comunhão vivido e encarnado no Corpo e Sangue de Cristo pelos quais nos unimos a Ele, nos tornando um só corpo, unindo-nos uns aos outros em ardente e fraterna comunhão, conquistada pelos méritos de Cristo Jesus.
É preciso que a Igreja desperte e se levante como um grande exército no poder do Espírito Santo (Ez 37,10), sabendo manejar as armas ofensivas e defensivas (2 Cor 6,7) e assim aguardarmos o dia do Senhor em que será dito acerca de nós: “ Agora chegou a salvação, o poder e a realeza de nosso Deus, Assim como a autoridade do seu Cristo, porque foi precipitado o acusador de nossos irmãos, que os acusava, dia e noite, diante do nosso Deus. Mas estes venceram-no por causa do sangue do Cordeiro e de seu eloquente testemunho” (Ap 12,10 -11).
Pe. Márcio Alexandre Vignoli
Pároco da Paroquia Divino Espírito Santo, em Camboriú,
e fundador da Comunidade Católica Divino Oleiro
Artigo publicado na página 8 da edição de julho de 2022 do Jornal da Arquidiocese.