Palavra do Arcebispo: Liberdade Cristã

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Palavra do Arcebispo: Liberdade Cristã

A ideia de liberdade era muito estranha para o ser humano primitivo, uma vez que se sentia dominado pelas forças da natureza e do destino. Começou a construir a ideia de ser humano livre com a filosofia, principalmente com o estoicismo. Esta corrente de pensamento entendia que o ser humano conquistava a sua liberdade à medida que tinha domínio sobre as próprias  paixões, o desapego de si, e o governo das forças exteriores. O caminho para tal conquista era o conhecimento.

A expressão liberdade cristã apareceu pela primeira vez na Carta de São Paulo aos Gálatas. É uma novidade introduzida no mundo pelo cristianismo. Fez-se sentir não só ao interno do caminho cristão, mas deixou sua marca profunda na cultura ocidental. O ser humano é chamado para ser livre em Cristo. Ele foi tudo para todos sem ser escravo de nada e de ninguém. O próprio Paulo declara que se libertou do seu eu – “já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim”.

São Paulo fala do orgulho como excesso de afirmação de si mesmo, ele bloqueia a passagem para a maturidade humana e cristã. Há quem afirme que o ser humano vive como um moderno Prometeu, não tolera ninguém acima dele e ousa dizer “não” a Deus. A Carta aos Gálatas alerta para não fazer da liberdade um pretexto para servir à carne. Enumera uma série de obras da carne que escravizam o ser humano: “imoralidade sexual, impureza, devassidão, idolatria, feitiçaria, inimizades, contendas, ciúmes, iras, intrigas, discórdias, invejas, bebedeiras orgias” (Gl 5,19-21).

Nenhum ato humano pode tornar-se causa ou condição de salvação. A liberdade é fruto da ação do Espírito Santo em nós. Do ser humano se pede a adesão de fé. Santo Agostinho define a liberdade como uma decisão para o bem. É uma retidão de vida como vivência da vontade de Deus. Não é um conformismo inerte. Quem é livre em Cristo reconhece as contingências externas, as tendências da carne. A luta espiritual é o campo em que a liberdade se realiza progressivamente. A liberdade desenvolve uma atividade intensa, coloca o ser humano em tensão com os poderes do mundo. A liberdade constrói a unidade do ser humano em todas as suas dimensões, a unidade com Deus, e a unidade com toda a criação.

Um pensamento do escritor Goethe expressa a essência da liberdade cristã: “É obedecendo que sinto melhor a minha alma em liberdade”. No ser humano livre tanto as reações internas como aquelas exteriores estão em sintonia com o ensinamento de Cristo.

Por Dom Wilson Tadeu Jönck, SCJ
Arcebispo de Florianópolis

Artigo publicado na edição de agosto do Jornal da Arquidiocese, página 2.

Artigo de Dom WilsonDom Wilson Tadeu JönckJornal da Arquidiocese

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