Por Pe. Gilson Meurer
O Cânon do Novo Testamento possui outra carta de São Pedro (2Pd) com diversas referências pessoais ao apóstolo, além do seu nome em 1,1; faz alusão à iminência de sua morte (1,14), revelada-lhe pessoalmente por Cristo (cf. Jo 21,19); o fato de ter sido testemunha ocular da “majestade do Senhor” (1,16), possível refererência à Transfiguração (cf. Mt 17,1-5); e uma nota à sua primeira carta (3,1). Mesmo assim, a autoria de Pedro é bastante discutida por razões de estilo e temáticas, por ele citar outros escritos (3,2.15-16), e citar a morte dos “pais” da fé (3,4), ou seja, a primeira geração cristã. É mais provavelmente, então, que um discípulo do apóstolo tenha escrito a carta a partir de seus ensinamentos.
Os destinatários da carta são todos os cristãos “que receberam, pela justiça de nosso Deus e Salvador Jesus Cristo, uma fé de valor igual à nossa” (1,1). Esses cristãos deveriam sofrer com o assédio de falsas doutrinas, pois o texto revela as mesmas preocupações da primeira carta (1Pd): pôr de sobreaviso contra os falsos doutores e resolver a inquietação surgida pela demora da Parusia (a vinda de Cristo).
Esses falsos mestres parecem que saíram da comunidade cristã (2,2) e levaram consigo muitos seguidores (2,3). O autor não lhes poupa adjetivos severos: míopes (1,9), atrevidos, arrogantes, irracionais (2,10.12), impuros, viciados de adultério (2,14), fúteis e cheios de concupiscência (2,18), corruptos e enganadores (2,19; 3,3). Ao que parece, eram ex-cristãos que, diante da demora da vinda do Senhor, abandonaram a fé e começaram a negar a salvação em Jesus Cristo (3,4.9).
No próximo número do Jornal da Arquidiocese, veremos como a carta procura reforçar a fé dos cristãos naquele contexto de crise.
Artigo publicado na edição de junho do Jornal da Arquidiocese, pág. 8.