A pandemia de Covid-19 agravou muito os problemas sociais vividos pela humanidade. O consumismo desenfreado do sistema capitalista representa um risco à humanidade. Evidenciando a ideia de desenvolvimento do século XX, não conseguiu resolver os problemas de desigualdade sociais. Ao contrário, o abismo entre ricos e pobres aumentou ainda mais durante a pandemia. A ruptura entre ser humano e natureza é uma outra grande mazela do consumismo.
Neste momento, também é possível criar no imaginário uma nova forma de ver a sociedade. Que sociedade queremos pós-pandemia? É possível neste momento se permitir a sonhar com um mundo diferente como Jesus sonhou, onde reine a paz, justiça e solidariedade. Para muitos, essa nova sociedade já está em construção, principalmente com a ampliação dos gestos de solidariedade junto às pessoas que mais sofrem durante a pandemia. É tempo de cuidar da fragilidade humana, que requer uma nova aliança com a natureza também. É tempo de construir a sociedade do bem viver.
A raiz da sociedade do bem viver é indígena e refere-se a uma perspectiva de vida dos povos tradicionais, onde não é necessário muito para ser feliz, diferentemente da ideia de desenvolvimento, onde para viver bem é necessário ter muito. No bem viver, o que importa é a vida digna de toda comunidade e a comunhão com a mãe terra e com os antepassados. Ela representa a vivência das primeiras comunidades cristãs, onde tudo era partilhado.
O bem viver é uma proposta de transformação da sociedade, um novo caminho, uma terceira via, que exige uma conversão pessoal para conviver bem com todos, dando resignificado para a vida, onde o ser humano não é o centro de tudo, mas uma parte dentro da casa comum.
Enquanto sinal do Reino de Deus, a sociedade do bem viver já acontece enquanto ela está em construção. A pessoa que se coloca neste novo caminho, já estará vivenciando essa nova sociedade.
Artigo publicado na edição de junho do Jornal da Arquidiocese, pág. 5.