Há 34 anos que a rotina diária inicial e final do trabalho é a mesma: Osni Flores reza e agradece a Deus diante das imagens que tem na pequena sala onde guarda os pertences pessoais. Isto desde o dia 18 de janeiro de 1981, quando começou a trabalhar na residência episcopal em Florianópolis como jardineiro. “Me sinto feliz fazendo isso, parece que dá um alívio”, afirma.
Nestas mais de três décadas, “Seu Osni” como é conhecido, trabalhou com jardinagem, serviços gerais, concertos, reparos e manutenção em geral. O primeiro arcebispo com quem trabalhou foi Dom Afonso Niehues, depois Dom Eusébio Oscar Scheid, Dom Murilo Krieger e agora, Dom Wilson Jönck. “A saída de Dom Afonso me marcou, por ser meu primeiro chefe, acho que foram uns dez anos com ele. Tornei-me amigo dele, não que eu não seja dos demais, mas foi muito tempo”, esclarece.
Seu Osni diz que “trabalhar com os bispos é algo único. Considero este trabalho minha segunda casa. Me sinto feliz, aqui formei minha família. Trabalhamos por uma mesma causa”.
O trabalhador na Igreja
A estatística aponta 392 pessoas que trabalham formalmente nas 70 paróquias da Arquidiocese de Florianópolis, distribuídas em 30 municípios. São secretários e secretárias, auxiliares de serviços gerais, de escritório, financeiro, administrativo, jardineiros, cozinheiras, motoristas.
“É muito gratificante, pois trabalhar numa instituição como o asilo é estar consciente de que temos que amar os idosos. Aqui muitos foram menosprezados pela família, isso me dá a consciência de que preciso mesmo ajudar”, afirma um destes muitos trabalhadores, Vicente João da Cruz, 55 anos, que trabalha há quase dois anos na manutenção do Asilo Casa Santa Maria dos Anjos, em Palhoça.
Além disso, existe outro grupo de trabalhadores que atua de maneira voluntária, como os catequistas, Ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão, coordenadores de grupos, movimentos, pastorais, conselheiros paroquiais, sacristãos, coroinhas, liturgia, música. Registrados ou voluntários são trabalhadores que, assim como São José Operário se sacrificou para manter a Família de Nazaré, eles também se ofertam sem medidas por amor a Deus e a Igreja.
Na Encíclica Laborem Exercens, do Papa João Paulo II (1981), sobre o trabalho humano, tem-se que “com a palavra trabalho é indicada toda a atividade realizada pelo homem, tanto manual como intelectual, quer dizer, toda a atividade humana que se pode e deve reconhecer como trabalho”. O santo ainda diz que o trabalho é uma das características que distinguem o homem do resto das criaturas. Somente o homem tem a capacidade para o trabalho.
Para homenagear os homens pelo dom ao trabalho, foi instituído o Dia do Trabalhador ou Dia Internacional dos Trabalhadores, 1º de maio, celebrado anualmente em vários países do mundo, sendo feriado no Brasil, em Portugal e em outros.
Teve origem no ano de 1886, em Chicago, nos Estados Unidos, onde os operários de uma fábrica se revoltaram com a situação desumana a que eram submetidos e pelo total desrespeito à pessoa que os patrões demonstravam. Eram 340 em greve e a polícia massacrou-os sem piedade. Mais de 50 pessoas ficaram gravemente feridas e seis delas foram assassinadas num confronto desigual.
Com o fortalecimento da classe operaria, o dia 1º de Maio foi declarado feriado nacional e se tornou oficial com a criação de um decreto pelo presidente Artur Bernardes, em 1925.
No calendário litúrgico, celebra-se a memória de São José Operário por se tratar do santo padroeiro dos trabalhadores. “Graças ao seu banco de trabalho, junto do qual exercitava o próprio ofício juntamente com Jesus, José aproximou o trabalho humano do mistério da Redenção”, cita João Paulo II, na Encíclica Redemptoris Custos.
Quase duas décadas na paróquia de Biguaçu
No dia 21 de maio, Jarbas João Crescêncio completará 18 anos na função de secretário paroquial da Paróquia São João Evangelista, em Biguaçu. Um trabalho que passa também pela acolhida, evangelização e atenção às pessoas necessitadas.
Casado e pai de dois filhos, Jarbas relata um fato marcante neste tempo quando, “na distribuição de cesta básica havia 89 pessoas na fila e só tinham 44 cestas. Fomos dando um jeitinho aqui, outro ali e atendemos a todos. Com fé conseguimos fazer um trabalho de evangelização, buscando construir o Reino de Deus entre nós, com aquilo que fazemos”.
Ao descrever que é feliz como secretário, Jarbas parabeniza todos os trabalhadores neste mês de maio e diz que “temos que trabalhar com amor ao próximo, dedicação e fé, pois a secretaria paroquial é o cartão de visita da paróquia”. E deixa a dica: “atenda ao próximo como gostaria de ser atendido”.
Desde os 17 anos de idade
Da Paróquia São Virgílio, em Nova Trento, vem outro exemplo de uma trabalhadora alegre e bem disposta. No dia que completou 17 anos de idade, 15 de setembro de 1986, Deus presenteou Denair Aparecida Scalvin da Costa com o trabalho como secretária da paróquia.
Denair completará 20 anos de casada no próximo mês de junho. Com três filhos, ela conta que o trabalho na paróquia é amplo e complexo e vai além da rotina na secretaria. Passa pela coordenação das festas do padroeiro ao atendimento às necessidades básicas dos sacerdotes.
Aos 45 anos de idade, descreve que o trabalho na Igreja no começo foi uma novidade. Porém, com o passar do tempo se envolveu mais com o serviço da paróquia. “Hoje vivo 24 horas por dia servindo a Deus como secretária paroquial. Aqui você precisa realmente gostar do que faz, ter muita paciência e amor. É ir além do serviço técnico exigido para atuar como secretária. É preciso ser mais humana, dedicada, atenciosa, acolhedora, amiga. E, com tudo isso, manter o foco: é um serviço a Deus e à sua Igreja”, relata.
Da cozinha às compras
Lavar, passar, limpar a casa onde moram cinco padres, fazer as compras e as refeições. Há 13 anos que a rotina de Valquiria Suave Mendes é esta, na casa paroquial da Paróquia São Luís Gonzaga, centro de Brusque. Natural de Guabiruba, casada e mãe de dois filhos, Valquiria explica que “uma das grandes alegrias é quando conhece novos padres e pode servir a eles no dia a dia. A tristeza é quando os padres são transferidos ou morrem”.
Valquiria cita ainda que o trabalho na casa dos padres em Brusque é sereno e de paz. E que “a gente não deve apenas trabalhar com o esforço físico, mas sim, com doação, coração, fazendo o que gosta. O trabalho realizado pelas mãos humanas engrandece e rejuvenesce o espírito e revitaliza o corpo. Deus fez do ser humano, seu sócio e colaborador na criação do mundo. Lembremos de São José, patrono dos operários e humilde servo de Deus. Busquemos e imitemos este homem justo e trabalhador em nossas atividades cotidianas”.
De Itajaí, outro exemplo de amor ao serviço
Eliane Onofre Siemann de Oliveira trabalha há 18 anos na Paróquia São João Batista, em Itajaí. Viúva, mãe de dois filhos, ela explica que além dos trabalhos realizados na secretaria paroquial, também se dedica na catequese, nos retiros com jovens e na liturgia.
Aos 50 anos de idade, Eliane ressalta que na secretaria “todo dia vou encontrar com diversas pessoas, cada uma com sua necessidade, sua dúvida, onde podemos ajudar, escutar, enfim, tantas situações diariamente, mas gosto muito de estar aqui. Vivemos num mundo da pressa, onde não há tempo para perceber o próximo. Assim somos convidados a fazer a diferença em nosso trabalho. Pois viemos para servir”.
Trinta anos em Azambuja
Dos 50 anos de idade, José Carlos Cabral e Silva está há 30 como secretário da Paróquia Nossa Senhora de Azambuja, em Brusque. Morador do bairro Cedrinho, “Cabral”, como é mais conhecido, relata que começou a trabalhar como secretário da Paróquia e também, do Seminário de Azambuja, onde nesta última função permaneceu até 2003.
Na paróquia que conta com sete funcionários, duas religiosas e cinco padres, Cabral afirma que “durante este tempo desempenhei meu trabalho com a certeza de estar contribuindo para o bem estar de todos e da Igreja. Todo trabalho, remunerado ou voluntário realizado na Igreja, deve ser com amor, dedicação e respeito”.
Cabral e tantos outros trabalhadores da Igreja arquidiocesana são convidados a consagrar seus trabalhos e lutas diárias, suas famílias, ao coração de São José Operário, modelo de trabalhador fiel e dedicado.
Matéria publicada na edição nº 212 do Jornal da Arquidiocese
Maio de 2015