A Quaresma deste ano nos convida a enfrentar um grande desafio: converter-se ao diálogo. Nestes tempos de pandemia, recrudescem os extremismos, as polarizações, as fake news. A tentação é pagar a mentira com a mentira, esgarçar ainda mais o tecido social, puxar a razão para o próprio campo, apresentar-se como o dono da verdade, definir o outro como perverso, excluir o diferente. A Campanha da Fraternidade Ecumênica nos convida ao diálogo, um verdadeiro exercício quaresmal.
TEMPOS SOMBRIOS
Na encíclica Fratelli Tutti, o papa Francisco adverte que vivemos tempos sombrios, em que foram desfeitos os sonhos de uma sociedade justa e igualitária. Em vez de um projeto de inclusão, com a possibilidade de todos terem acesso aos bens necessários a vida digna, privilegia-se o descarte. Os direitos humanos valem para alguns, enquanto uma grande multidão não tem acesso à saúde, à educação, à moradia, ao respeito por sua diferença de cor, de orientação sexual, de religião. Reina um espírito de agressividade a tudo o que é diferente e não se encaixa no regime dos próprios valores. Excluem-se as pessoas só pelo fato de serem de outra igreja, de outro partido, de outra ideologia. Constroem-se muros que dividem pessoas e grupos.
DIÁLOGO AMOROSO
A Campanha da Fraternidade Ecumênica propõe que nesta Quaresma nos acordemos para o diálogo. “Convida as comunidades de fé e pessoas de boa vontade a pensarem, avaliarem e identificarem caminhos para superar as polarizações e violências através do diálogo amoroso, testemunhando a unidade na diversidade” (Texto-Base, p. 10). Convida os cristãos a viver “um jejum que agrada a Deus e que conduz à superação de todas as formas de intolerância, racismo, violências e preconceitos” (p. 14-15).
NO CAMINHO DE EMAÚS
Muitas vezes nos sentimos como os discípulos de Emaús, que voltavam para casa desanimados e atordoados por não conseguirem entender a violência praticada contra seu Mestre, justo e inocente. Algo havia de errado. Estavam a ponto de se deixarem levar pela fake news (ele era mesmo um criminoso, já que foi condenado por chefes religiosos e pelo poder romano!), quando foram alcançados pelo Amigo desconhecido. Foi no diálogo com ele, na leitura da Palavra e partilha do Pão, que puderam chegar à luz da verdade. Somos convidados a seguir por este Caminho!
Artigo publicado na edição de março de 2021 do Jornal da Arquidiocese, página 5.