Na festa da Apresentação do Senhor e Dia Mundial da Vida Consagrada o Papa Francisco presidiu a Santa Missa no Altar da Cátedra da Basílica Vaticana. Na sua homilia falou sobre a paciência de Deus. Iniciou com a paciência de Simeão: “Vejamos de perto a paciência de Simeão. Durante toda a vida, esteve à espera exercitando a paciência do coração (…). Caminhando com paciência, Simeão não se deixou quebrantar com o passar do tempo (…) não perdeu a esperança; com paciência, guarda a promessa, sem se deixar consumir de amargura pelo tempo passado nem por aquela melancolia resignada que surge quando se chega ao crepúsculo da vida”.
E Francisco explica que em Simeão “a expectativa do esperado traduziu-se na paciência quotidiana de quem, apesar de tudo, permaneceu vigilante até que, finalmente, os seus ‘olhos viram a Salvação’ (Lc 2, 30)”.
“Onde terá Simeão aprendido esta paciência? Recebeu-a da oração e da vida do seu povo, que sempre reconheceu, no Senhor, o Pai que mesmo em presença da recusa e da infidelidade não se cansa; antes, a sua ‘paciência suportou-os durante muitos anos’ ,para conceder sempre a possibilidade da conversão”
A paciência de Deus
Francisco continua:
“Assim, a paciência de Simeão é espelho da paciência de Deus. A partir da oração e da história de seu povo, Simeão aprendeu que Deus é paciente. E com a sua paciência, como afirma São Paulo, ‘convida à conversão’ (Rm 2, 4)”. E esclarece explicando que há de ser sobretudo Jesus “a revelar-nos a paciência de Deus, o Pai que usa de misericórdia para conosco e chama até à última hora, que não exige a perfeição, mas a generosidade do coração”.
“O seu amor não se mede com os pesos dos nossos cálculos humanos, mas sempre nos infunde a coragem de recomeçar”
A nossa paciência
O Papa segue falando sobre “A nossa paciência” e explica:
“Não é simples tolerância das dificuldades nem suportação fatalista das adversidades. A paciência não é sinal de fraqueza: a fortaleza de ânimo torna-nos capazes de suportar a carga dos problemas pessoais e comunitários (…) impele-nos a caminhar mesmo quando nos assaltam o tédio e a preguiça”.
Três lugares onde se concretiza a paciência
Dirigindo-se particularmente aos consagrados sugere: “Gostaria de indicar três ‘lugares’ onde se concretiza a paciência”.
O primeiro é a nossa vida pessoal. Um dia respondemos o chamado do Senhor, oferecendo-nos a Ele com entusiasmo e generosidade. Ao longo do caminho, a par das consolações, tivemos também decepções e frustrações. Às vezes, o resultado esperado não corresponde ao entusiasmo do nosso trabalho”, porém adverte o Pontífice:
“Devemos ter paciência conosco e esperar, confiantes, os tempos e as modalidades de Deus: Ele é fiel às suas promessas. Lembrar-nos disto permite repensar os percursos e revigorar os nossos sonhos, sem ceder à tristeza interior e ao desânimo”
O segundo lugar onde se concretiza a paciência: a vida comunitária. As relações humanas, especialmente quando se trata de partilhar um projeto de vida e uma atividade apostólica, nem sempre são pacíficas (…), é preciso saber dar tempo ao tempo, procurar não perder a paz, esperar o momento melhor para uma clarificação na caridade e na verdade”.
“Lembremo-nos disto: o Senhor não nos chama para ser solistas, mas para fazer parte dum coro, que às vezes desafina, mas sempre deve tentar cantar em conjunto”
Paciência com o mundo
Enfim o terceiro “lugar”, a paciência com o mundo. Francisco diz que precisamos da paciência de Simeão e Ana para não entoar o lamento pelo que está errado, mas esperar com paciência a luz na obscuridade da história.
“Precisamos desta paciência, para não acabarmos prisioneiros das lamentações”
Concluindo o Santo Padre afirma:
“A paciência ajuda-nos a olhar com misericórdia para nós mesmos, as nossas comunidades e o mundo”. E sugere uma auto conscientização: “Acolhemos nós a paciência do Espírito na nossa vida? Nas nossas comunidades, carregamo-nos mutuamente aos ombros e mostramos a alegria da vida fraterna? E, com o mundo, realizamos o nosso serviço com paciência ou julgamos com severidade? São desafios para a nossa vida consagrada: não podemos ficar parados na nostalgia do passado, nem limitar-nos a repetir sempre as mesmas coisas. Precisamos da paciência corajosa de caminhar, explorar novos caminhos, procurar aquilo que o Espírito Santo nos sugere”.