A fé cristã vive da confiança de que o Senhor Jesus estará sempre conosco. Sua promessa nos garante: “Eu estarei convosco todos os dias até o final dos tempos” (Mt 28,20). Nesses tempos de pandemia, porém, sua presença se torna opaca, quase invisível. Para os católicos, cuja fé caracteriza-se pela prática dos sacramentos, especialmente da Eucaristia, parece impossível experimentar o Senhor sem recebê-lo nestes tempos de isolamento social e de impossibilidade de frequentar a missa.
Católicos sem Eucaristia
Convém lembrar que são muitíssimas as comunidades católicas pelo mundo afora que não têm acesso à Eucaristia dominical. No Brasil, são mais de 80 mil, concentradas no Norte e Nordeste do país. Em séculos passados, por causa do assassinato dos padres, comunidades católicas da Coreia e do Japão viveram décadas sem acesso à Eucaristia. Estranho saber de tradicionalistas que estão aí a exigir de bispos e padres o “direito” à Eucaristia, enquanto negam a possibilidade de ordenação de homens casados para celebrar os sacramentos nas comunidades amazônicas, que ficam meses, às vezes um ano inteiro, sem Eucaristia.
Viver sem Eucaristia
Viver sem Eucaristia nesses tempos de pandemia é uma boa oportunidade para experimentar a aflição de inúmeros católicos que vivem normalmente sem acesso a esse sacramento central da fé cristã. O sofrimento pessoal pela falta de comunhão com o Corpo de Cristo na Eucaristia pode ajudar a entender a dimensão maior da união com o Senhor: a comunhão com a Igreja, o Corpo místico de Cristo.
Presenças do Senhor
A comunhão com a Igreja, nesses tempos de pandemia, ajuda a experimentar as múltiplas presenças do Senhor. De modo sintético, o Concílio Vaticano II, assim se expressa: “Cristo está sempre presente na sua Igreja, especialmente nas ações litúrgicas. Está presente no sacrifício da missa, quer na pessoa do ministro – ‘o que se oferece agora pelo ministério sacerdotal é o mesmo que se ofereceu na cruz’ – quer e sobretudo sob as espécies eucarísticas. Está presente com o seu dinamismo nos sacramentos, de modo que, quando alguém batiza, é o próprio Cristo que batiza. Está presente na sua Palavra, pois é ele que fala ao ser lida na Igreja a Sagrada Escritura. Está presente, enfim, quando a Igreja reza e canta, Ele que prometeu: ‘onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou no meio deles’ (Mt. 18,20)” (SC, 7).
Artigo publicado na edição de maio de 2020 do Jornal da Arquidiocese, página 5.
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