Entre os dias 8 e 11 de julho de 2019, sessenta padres do Regional Sul IV da CNBB reuniram-se em Garopaba/SC para um tempo de reflexão sobre a saúde psíquica do sacerdote na atualidade. Sob a orientação do Dr. Pe. Rosimar José de Lima Dias, doutor em Psicologia e sacerdote do clero da Arquidiocese de Cuiabá/MT, puderam compreender o que é a Síndrome de Burnout, os principais fatores que expõem o clero ao risco de contrair esta síndrome e quais critérios básicos destacam-se para um adequado manejo psíquico. Também foram debatidos os efeitos da depressão (transtorno depressivo maior).
BURNOUT: VAMOS FALAR SOBRE ISSO?
A Síndrome de Burnout no clero: saúde psíquica pressupõe qualidade de vida e espiritualidade.
Falar de saúde mental engloba, entre outras qualidades, a capacidade do sujeito de apresentar suficiente equilíbrio emocional para responder adequadamente às exigências tanto internas quanto externas a que é exposto no dia a dia. Esta habilidade de administrar a própria vida e a forma de se sentir implicado na resolução de seus problemas e na condução de sua vida, colaboram nesta direção. Mas nem sempre este caminho pode ser fácil e seguro.
Há muitos fatores de risco no mundo do trabalho que podem expor a pessoa a uma maior propensão à síndrome de Burnout. Esta síndrome, foco de estudos em vários lugares do mundo, é compreendida como um fenômeno psicossocial que resulta de uma inadequação do indivíduo no lidar com o estresse laboral. Além disso, esta síndrome pode vir acompanhada de sintomas psicossomáticos de vários níveis.
Em todas as idades vai tornando-se mais frequente, colaborando com o acesso fácil a drogas e álcool, o isolamento, a precariedade da educação, o alojamento e transporte, o desemprego, à violência, a descriminação e o racismo. Também cooperam com os sintomas, uma nutrição deficiente, a rejeição social persistente, o estresse laboral. Compreende-se aqui este estresse laboral como o acúmulo de trabalho, a inapetência do sujeito à função que lhe é pedida ou a dificuldade em realizar as tarefas laborais em ambientes ou pessoas em conflito.
O presbítero, dado a natureza de suas atividades laborais que incluem predominantemente pessoas, pode estar exposto em maior grau a este fenômeno. Dentre os critérios básicos para a saúde mental do presbítero, destaca-se uma atitude positiva em relação à sua imagem e às expectativas que lhe são impostas. A partir da tríade: conhece-te, aceita-te, supera-te, deve acompanhar uma integração da resposta emocional à autodeterminação e autotranscendência do sujeito.
Assim, ele consegue ter uma mais apurada percepção da realidade, com maior e melhor domínio e competência ambiental diante das adversidades. Entretanto, este caminho pode gerar um acúmulo de situações não resolvidas ao longo das semanas, problemas insuperáveis, e cria-se então uma incongruência entre as exigências do seu trabalho e de suas relações pessoais mal resolvidas, com as suas limitações pessoais e laborais, gerando fadiga emocional, física e mental. Esta fadiga é ponto crucial para a perda da performance no trabalho e o aumento da ansiedade e do isolamento, características da síndrome. Consequentemente, a qualidade laboral é prejudicada. Entretanto, se hoje o foco da saúde mental está ainda direcionado reativamente para a prevenção, o caminho a ser percorrido nos próximos tempos será o da promoção da saúde tanto por parte do presbítero, quanto por parte da instituição religiosa.
Alguns fatores, nesta direção, podem proteger o sujeito, como a interação social positiva e as amizades sinceras. A participação social e a tolerância também colaboram, assim como a maior integração, os bons serviços de suporte sociais a que a pessoa tem acesso, bem como o domínio de fatores ambientais, sociais e pessoais, podem garantir uma melhor qualidade de vida. A possibilidade de maior flexibilidade, adaptabilidade e autonomia, também formam um alicerce no qual o sujeito consegue construir-se, adaptar-se e, consequentemente, superar-se.
A boa autoestima, as atividades físicas regulares (entendidas aqui como a indicação de meia hora diária nos sete dias da semana), bem como a estimulação cognitiva, fazem com que o sujeito se comporte de maneira saudável diante das adversidades a que seja exposto. A clareza de expectativas diante do ministério, bem como o equilíbrio entre trabalho e lazer, incluindo férias regulares, colaboram com o autocuidado, elemento fundamental neste processo.
Por fim, é preciso entender que esta síndrome apresenta alguns sintomas físicos, que acontecem em muitas profissões que lidam com tensões, stress e conflitos com pessoas no ambiente de trabalho. E o presbítero não está alheio a estes sintomas. Buscar terapia adequada é fundamental, em qualquer tempo. O importante é não se deixar convencer que tudo pode realizar sozinho.
Por Pe. Sérgio Luís Pedrotti
Presbítero da Arquidiocese de Florianópolis
Psicólogo – CRP 12/10722
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