A 2a carta aos Coríntios se abre com um preâmbulo (1,1-11) onde, após os costumeiros endereços e saudações, o apóstolo eleva a Deus um hino de ação de graças pela sua misericórdia e consolação no seu tormento, tornando-o também um canal de consolação para quem sofre.
Em seguida, S. Paulo justifica a sua conduta e expõe a grandeza do Ministério Apostólico (1,12–7,16). Seu ministério tem sido vivido na “sinceridade” do anúncio de Jesus Cristo (2,17), tornando a comunidade de Corinto a melhor “carta de recomendação” do apóstolo, carta não escrita com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, em “tábuas de carne”, os corações (3,3). O ministério não se é atribuído, mas é uma graça que vem de Deus (3,5), sinal da sua misericórdia (4,1), não para se auto-proclamar, mas para anunciar a Cristo (4,5). Esse tesouro, porém, é portado na fragilidade humana como em vaso de argila, justamente para que se manifeste o poder de Deus (4,7). Como colaborador de Deus, o apóstolo das nações exorta para que acolham a graça de Deus, pois o tempo é favorável: “eis agora o dia da salvação” (6,1-2).
Então, S. Paulo passa a suplicar que, entre tantos dons manifestos dos coríntios, exceda o da generosidade (8,7). A coleta que ele organiza (cc. 8–9), manifesta o ideal paulino da união entre as Igrejas. Preocupação constante do apóstolo, a doação é uma “graça” que permite imitar ao Deus misericordioso, feito na “simplicidade” de quem não espera vantagens nem vanglória, e um “ato justificante”, pois a caridade cobre uma multidão de pecados. “Deus ama a quem dá com alegria” (9,7).
Na terceira parte (cc. 10–13), o tom vicejante de alegria dá espaço a necessidade de responder aos “pseudo-apóstolos” que o acusavam de fraco e ambicioso. Ele sempre trabalhou com amor, gratuitamente, sofrendo até penúria extrema, trabalhando com suas próprias mãos para não ser de peso a ninguém. A contragosto, o apóstolo se vê obrigado a elencar suas virtudes, qualidades, carismas, visões, não para manifestar superioridade, mas para dizer quanto é graça do Senhor aquilo que ele suporta e realiza. Com efeito, é das suas fraquezas que ele se gloria, pois por meio delas a força manifesta todo seu poder (12,9). “Quando sou fraco, então é que sou forte!” (12,10). Na conclusão, breve, ele convida a procurar a perfeição, a encorajar-se, a buscar a concórdia e a paz (13,11-13), deixando uma carta que revela todo seu zelo por essa sua comunidade querida: “experimento por vós um zelo semelhante ao de Deus” (11,2).
Artigo publicado na edição de março de 2019 do Jornal da Arquidiocese, página 08
Por Pe. Gilson Meurer