A versão grega da Bíblia (chamada Septuaginta, tradução do séc. III a.C.), seguida pela versão latina (a Vulgata), dividiram esse salmo em dois, o 146 e 147, de modo que, daqui em diante, a numeração retorna a coincidir com a versão hebraica (cf. Salmos 1–8).
O salmo 147 se configura como um hino de louvor e ação de graças, e tem três partes bem delimitadas por três imperativos ao louvor (refrãos em vv. 1.7.12): vv. 1-6; vv. 7-11; vv. 12-20. Não é difícil de situá-lo no período pós-exílico, pois canta o retorno dos exilados e a reconstrução de Jerusalém (v. 2). Com efeito, Jerusalém é importante e central, e o salmo entoa a sua reconstrução e segurança (vv. 2-3-14); re-povoação e crescimento (2.13); cura (3); alimentação (9.14); custodia da Palavra (19).
O salmo louva a onipotência e onisciência de Deus (v. 5) que se manifestam em todo o universo (nas estrelas, nos animais e vegetais, nos seres humanos), sobretudo no seu povo e na sua cidade santa. Deus governa as coisas caóticas: Das nuvens do céu, que irrigando a terra produzem as ervas e, desse modo, alimento para os animais e as pessoas. O clima inóspito do inverno é transformado: a neve em uma cobertura de lã, a geada em cinza (resto do fogo) e o gelo em migalhas (resto de pão). Assim, o salmista recorda que a libertação do exílio e a restauração são obras da bondade e onipotência de Deus, que cura os corações despedaçados, os ferimentos e sustenta os pobres (vv. 3.6).
Os Padres da Igreja (Eusébio, Hilário, Agostinho) relacionaram Jerusalém restaurada com a Igreja celeste, triunfante, segura, plena de paz. Mas também à Igreja terrestre, onde os corações dilacerados são curados, os dispersos (os pagãos) são reunidos, os homens se alimentam da fina flor do trigo (a Eucaristia).
Leia o salmo e reflita:
1) De que modo o Senhor manifesta a sua grandeza, onisciência e onipotência?
2) Quais convites o salmista dirige ao seu leitor/ouvinte?
Por Pe. Gilson Meurer
Artigo publicado na edição de março/2018, nº 243, do Jornal da Arquidiocese, página 08.