Na conclusão do capítulo IV de Amoris Laetitia, o Papa Francisco faz uma relação entre matrimônio e virgindade, para dizer que esses dois estados de vida não se excluem, mas se complementam, e são formas diversas de viver o amor cristão.
O dom da virgindade
Há muitas pessoas que, por diversos motivos, não se casam e, por sua condição celibatária, prestam grandes serviços às famílias, à Igreja, ao círculo de amigos, à sociedade. A virgindade ou o celibato é uma forma de amor. Aponta para a plenitude do Reino, onde não haverá mais marido e mulher, mas todos serão adoradores de Deus (cf. Mt 22,30). “Recorda-nos a solicitude pelo Reino, a urgência de entregar-se sem reservas ao serviço da evangelização” (AL, 159). Diante da virgindade ou celibato de alguns, os casados são lembrados de viverem “o seu amor conjugal na perspectiva do amor definitivo a Cristo, como um caminho comum rumo à plenitude do Reino” (AL, 161).
Vocações complementares
São Paulo reconhecia o valor de ambas as vocações: “Cada um recebe um dom particular, um este, outro, aquele” (1 Cor 7,7). Não há superioridade ou inferioridade entre matrimônio e virgindade ou celibato. São vocações complementares. Há quem diga que o matrimônio é superior, porque simboliza algo tão grande como a união entre Cristo e a Igreja. Há quem diga que a virgindade ou o celibato é superior, porque funda o conjunto da vida nos conselhos evangélicos. Mas, em verdade, seja no casamento seja no celibato ou na virgindade, pode-se viver de maneira total a caridade cristã, de modo a alcançar a graça da santidade perfeita.
Formas de amar
“A virgindade e o matrimônio são – e devem ser – modalidades diferentes de amor, porque o homem não pode viver sem amor” (AL, 161). Se a pessoa consagrada na virgindade ou no celibato reflete para seus irmãos na fé a liberdade e a plenitude do Reino, o amor dos esposos reflete a Trindade em sua unidade e diversidade, reflete o amor de Cristo que na cruz entregou-se para salvar a humanidade.
Tanto a virgindade como o matrimônio são sinais, sacramentos, de Cristo. “A virgindade é um sinal ‘escatológico’ de Cristo ressuscitado, o matrimônio é um sinal ‘histórico’ do Cristo terreno que aceitou unir-se a nós e se deu até o derramamento do seu sangue” (AL, 161).
Publicado na edição de outubro/2017, nº 239, do Jornal da Arquidiocese, página 05.