Adotivas, biológicas, voluntárias, com poucos ou muitos filhos, mulheres que receberam o dom da maternidade
Frases como estas, você vai encontrar nesta reportagem de capa do Jornal da Arquidiocese: “Mãe é tudo”; “Ser mãe é um chamado de Deus, um trabalho de Maria, um caminhar com ela e construir vida nova”; “Deus me deu o dom de ser mãe por adoção e sou plenamente realizada”; “Quando a gente vem ao mundo tem uma missão, Deus dá o dom de ser mãe”; “Depois de muita luta, eu disse sim à vida”. Essas são mulheres de diferentes lugares que, por algumas horas ou uma vida inteira, têm a consciência de que ser mãe é vontade e dom que vem do céu.
O Papa Francisco, ao concluir a Bula deste Ano da Misericórdia, observa: “Maria atesta que a misericórdia do Filho de Deus não conhece limites e alcança a todos, sem excluir ninguém”. Assim, as mães – Ondina, Salete, Renata, Terezinha e Morgana -, foram alcançadas pela misericórdia do Filho de Maria e não excluíram o dom da maternidade concedido por Deus.
Mãe de muitos filhos
No primeiro exemplo do dom divino da maternidade, uma mãe muito forte. Ondina Rita Machado, 84 anos, casada com Romeu João Machado, 86. Uma feliz união que resultou em 11 filhos biológicos e um adotivo, sendo um deles já falecido. Dez filhos nasceram em casa, com ajuda de uma parteira. Netos, são mais de 30. Bisnetos, também ultrapassam a casa dos 30.
“Ser mãe é tudo, é vontade e dom de Deus”, acredita esta mãe que todo sábado vai à missa na comunidade Senhor Bom Jesus, onde mora, na localidade de Macacu, em Garopaba.
Ondina, que hoje vive sobre uma cadeira de rodas, diz que passou por muita dificuldade: “Trabalhava na roça e levava as crianças no carro de boi. Fazia a barraca e eles ficavam lá brincando, enquanto eu trabalhava”. Mas as lutas desta mãe prosseguiam. Para os filhos irem à escola, usavam a roupa que tinham, nada de uniforme. Não havia caderno, eram improvisadas folhas soltas de papel. As crianças dormiam no chão, não existia cama na época. Era apenas meia dúzia de ovos para sete crianças. A carne era pouca. “Colocava uma esteira no chão e os filhos comiam lá, numa “gamelinha” de pau. Feijão e pirão d’água tinha sempre, arroz não”, lembra Ondina Machado.
O resultado desse sacrifício para criar os 12 filhos é que todos conseguiram estudar e hoje estão empregados. “O filho para mim vale tudo, é o maior prazer do mundo, um sonho realizado, com a graça de Deus”, finaliza.
Mãe espiritual
Do outro lado da Arquidiocese se constata outro exemplo de superação. Natural de Francisco Beltrão, no Paraná, Salete Fernandes dos Santos, 63, mora há 20 anos em Itapema. Teve oito filhos, cuida de quatro netos e há três anos encontra tempo para dividir o colo de mãe com as 180 crianças assistidas pela Ação Social Santo Antônio – ou Casa de Caridade Madre Tereza de Calcutá – no bairro Jardim Praia Mar, em Itapema. Toda segunda-feira, Salete está lá, voluntariamente, para ajudar no que for preciso.
Há 29 anos ficou sozinha para criar os filhos e agora, ao olhar para trás, contempla o fruto de uma vida ofertada por eles. “Todos encaminhados, graças a Deus e a força que a Virgem Maria nos dá. Nossa Senhora esteve sempre ao meu lado. O chamado de Deus me trouxe ao mundo”, garante a voluntária.
Como Ondina, Salete dos Santos admite que ser mãe é uma dádiva, “um chamado de Deus, um trabalho de Maria, um caminhar com ela e construir vida nova”. Ela explica que o coração se tornou mais sensível, doce e guerreiro, ao ajudar a cuidar das crianças da Ação Social de Itapema. “As duas tias daqui, Darci e Carmem, pilastras desta casa, mães de todos, construíram tijolo por tijolo essa obra. Em cada parte dessa instituição, gotas de suor e amor, muito amor. Assim é o coração de mãe, pleno de amor”, admite Salete.
O cuidado na educação
“Quando a gente vem ao mundo tem uma missão, Deus dá o dom de ser mãe”, enfatiza Terezinha Macário, 72 anos. Casada há 50 anos com
Vitório Macário, eles tiveram seis filhos, dois falecidos. Participam há mais de 40 anos da Paróquia São José e Santa Rita de Cássia, no Jardim Atlântico, em Florianópolis.
Terezinha conta que sempre colocava um bombom no quarto dos filhos, como forma de dar as boas vindas, quando vinham da escola ou de outro lugar. Ou se chegavam atrasados para o almoço, deixava o prato feito com o nome de cada um. “A criança nasce e tem que ter muito afeto e amor. Na educação é o amor, nunca maltratamos nossos filhos”, destaca.
Com a postura de alguém que superou o sofrimento com maturidade, esta mãe, que participa do Movimento de Irmãos da Paróquia com o marido há 36 anos, relata a perda dos dois filhos. Fernando faleceu com nove meses de vida, vítima de meningite. Marcos, aos 15 anos, atingido por um veículo, morreu dois dias depois. “Superei tudo isso por acreditar na ressurreição. A vida é dura, mas com a fé em Deus a gente supera tudo. Deus foi meu refúgio”, reconhece.
A senhora Macário afirma que é preciso ser mãe, mas com responsabilidade. E deixa a dica: “É criar, educar, não deixar os filhos se perderem nos caminhos e ensinar a fé”.
A força do sorriso
Nem sempre a notícia da maternidade chega com alegria. Muitas mulheres se deparam com uma gravidez que, para elas, é indesejada, porque é fruto de um relacionamento efêmero, violência ou outras realidades.
Na Arquidiocese de Florianópolis, um grupo de voluntários trabalham com estas mulheres que pensam em abortar os filhos, no momento da gravidez indesejada. É um trabalho sigiloso e delicado, mas necessário para ajudar mães que sofrem e, por vezes, tomam atitudes contra a própria vida e dos bebês.
Um destes casos é o de Morgana, um nome fictício, mas de uma história real. Aos 28 anos de idade, chegou até este grupo com uma grande tristeza. O bebê que trazia no ventre foi diagnosticado com má formação congênita. Ao nascer, sobreviveria por apenas algumas horas. Muitas pessoas falavam para ela que era uma “coisa deformada” que tinha dentro de si e a aconselhavam a abortar.
A jovem desejou o aborto, mas sentia uma tristeza imensa. Ao conversar com as orientadoras voluntárias, entendeu que teria a alegria de acolhê-lo e tê-lo, mesmo que por algumas horas. “Depois de muita luta, eu disse sim à vida”, admitiu a jovem mãe. Ao nascer, no dia 13 de abril, ela descreve a emoção: “ele nasceu sorrindo e sobreviveu por duas horas, olhando para mim. Sinto que é como ele me dizendo: obrigado, mãe, por ter me deixado te conhecer”. Morgana confirmou que sente muito a perda. “Mas ao mesmo tempo, fico feliz, porque vou guardar o sorriso do meu menino para sempre no meu coração”, concluiu.
Tempo de espera
De volta a Florianópolis, ao testemunho das mães Ondina, Salete, Terezinha e Morgana, junta-se o de Renata Ferla, 36, casada há 11 anos. A designer de produtos conta que a maternidade é inerente às mulheres. “Quando a gente está disponível, Deus mostra os caminhos. Deus me deu o dom de ser mãe por adoção e sou plenamente realizada”, reconhece.
Antes mesmo de se casar, Renata e o marido Guilherme já falavam em adotar uma criança. Depois do casamento e durante três anos, o casal esperou pelo processo de adoção. Ela complementa que a “nossa gestação (minha e do Guilherme), foi bem mais longa do que as gestações ‘normais’. Nosso filho não foi gerado no meu ventre, mas em nossos dois corações”. A mãe então relata o momento mais aguardado da adoção: “Quando você recebe a ligação que tem um bebê com o perfil que colocou no cadastro, é como se fosse o resultado da gravidez. Foi uma alegria, uma ansiedade, toda família aprovou e curtiu junto”.
Cinco dias após a ligação, Mateus, com um ano e um mês de vida, chegava à casa do casal. Hoje ele está com três anos e meio.
Renata Ferla assegura que o diferencial é a gestação, mas depois que vira mãe, é mãe. “O Mateus demonstra muito carinho, abraça, beija, é sociável. O amor de mãe é dom de Deus”, define. Uma das frases de que essa mãe mais gosta, mesmo sem conhecer o autor, encaixa-se na dinâmica deste casal: “se não nasceu de nós, certamente nasceu para nós”.
Matéria de capa do Jornal da Arquidiocese, páginas 06 e 07 da edição de maio de 2016.