Dom Jacinto Vera: Bem-aventurado, por Dom Murilo S.R. Krieger, scj

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Dom Jacinto Vera: Bem-aventurado, por Dom Murilo S.R. Krieger, scj

No dia 6 de maio p.v., em Montevidéu, o Cardeal de Brasília, Dom Paulo Cezar Costa, presidirá a celebração de beatificação do primeiro Bispo da capital uruguaia. Não é a única participação brasileira na vida e beatificação de Dom Jacinto Vera. Explico-me: esse bispo, falecido em 1881, aos 68 anos de idade, nasceu a bordo de um navio em águas catarinenses. Seus pais, espanhóis, viajavam para Montevidéu. Como o navio em que estavam precisou atracar na capital de Santa Catarina, o garoto foi batizado na Catedral de Florianópolis no dia 2 de agosto de 1813. Embora não tenha voltado a essa cidade, Dom Jacinto nunca se esqueceu da igreja em que foi batizado, tanto assim que doou sua cadeira episcopal àquela Catedral.

Da rica personalidade de Dom Jacinto, que era um bispo muito amado pelo seu povo, destaco, especialmente, sua grande dedicação apostólica. Quer como sacerdote, quer como bispo, era incansável no atendimento a todos, a ponto de conseguir, como diziam seus contemporâneos, “uma milagrosa multiplicação de si mesmo”.

Responsável por uma imensa região, marcada pela falta de estradas, pela pobreza e doenças, ele fazia da palavra de Deus o seu alimento. Suas frases eram claras e precisas; sua voz era marcada pela emoção que nascia de seu amor a Deus, fazendo dele um verdadeiro modelo de pregador do Evangelho.

Famosa era sua caridade para com todos: ficou conhecido como pai dos pobres e consolador dos aflitos, em uma época em que os frequentes desentendimentos internos destruíam o país. Dom Vera era um mensageiro de paz entre as partes em conflito.

Foi um enérgico defensor dos direitos da Igreja: não aceitava a interferência civil nos assuntos eclesiais. Como não cedesse nesse ponto, teve, em um dado momento de seu episcopado, de deixar a sede episcopal. Só voltou a ocupá-la quando pôde exercer livremente as atividades pastorais.

Ao ser chamado pelo Senhor, deixou como testamento para seus filhos e filhas espirituais os ensinamentos de seus lábios e a força de suas convicções.

As águas do batismo, derramadas sobre ele na capital catarinense, fizeram nascer em seu coração uma luz que não se extinguiu com a noite de sua morte. Mais do que nos orgulharmos por ter sido batizado em terras brasileiras, somos chamados a cultivar os valores que nortearam sua vida. Dom Jacinto Vera entra para o grupo daqueles que, em nosso continente, seguiram Jesus Cristo de forma radical, e dedicaram sua vida à causa da evangelização.

Dom Murilo S.R. Krieger, scj
Arcebispo Emérito de São Salvador da Bahia

Dom Jacinto VeraDom Murilo Sebastião Ramos Krieger

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