Mutirão Arquidiocesano de Formação 2021: entrevista com a palestrante Fabiana Azambuja

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Mutirão Arquidiocesano de Formação 2021: entrevista com a palestrante Fabiana Azambuja

Tema do Mutirão Arquidiocesano de Formação, a ser realizado de 16 a 20 de agosto, provoca lideranças a refletirem sobre seu papel no acompanhamento de crianças, adolescentes e jovens. Confira a entrevista com a palestrante Fabiana Azambuja, diretora nacional do Programa Teen STAR.

Fabiana Azambuja, casada, mãe de quatro filhos, educadora, pedagoga, missionária, graduada em Letras, pós graduada em Couseling-Aconselhamento, em Bioética e em Medicina da Fertilidade. Desde 2012, é a diretora nacional do Programa Teen STAR no Brasil.

Jornal da Arquidiocese: A sexualidade tem sido pauta constante nos meios de comunicação e plataformas digitais. Mas, ao mesmo tempo que o conhecimento pelo assunto nunca foi tão debatido, parece haver uma certa confusão sobre como falar do assunto. Por que há esse sentimento geral?

Fabiana Azambuja: Me parece que não se trata de sentimento, mas de que tipo de mentalidade se tem sobre a sexualidade. A nossa mentalidade vai sendo constituída de acordo com as experiências que vamos vivenciando ao longo das nossas vidas. O ser humano não nasce formado, nem terminado, mas passa por um processo, que vai lhe permitir crescer e se desenvolver como pessoa. E esse processo não é automático.

A mentalidade, no senso comum, sobre o que é a sexualidade, é a que, geralmente, tem sido pauta e acaba dando esse sensação de confusão ao falar do assunto, de que a sexualidade é sinônimo, apenas, de genitalidade.
Normalmente, a única coisa que se fala é sobre genitalidade e o encontro da genitalidade masculina e feminina, portanto, uma visão reduzida, que influenciará nas experiências a serem vividas. Porém, a sexualidade é um conceito muito mais amplo, é um modo de ser, de se manifestar, de se comunicar com os outros, de sentir, de expressar o amor humano. A capacidade que eu e você temos de amar e sermos amados.

Uma vez que iniciamos nossa vida, nos preparamos para um caminho de comunicação direto e relevante com todos os que se aproximam de nós. Aqui entra em ação a nossa sexualidade, como uma força que permeia toda nossa realidade humana, não é acrescentado ao ser humano,ou seja, tem a ver com tudo o que somos.
A sexualidade, entendida como a capacidade que as pessoas possuem de dar e receber amor, abre perspectivas e possibilidades de viver, não somente instintivamente, mas pelo contrário, nos abre horizontes, para nos admirarmos com as dimensões física, emocional, intelectual, social e espiritual, que nos constitui e nos capacita a viver como pessoa.

Muitos pais e líderes pastorais não sabem como lidar com o tema da sexualidade com suas crianças, adolescentes e jovens. Qual é o caminho?

Não se trata de lidar com um “tema”, mas de acompanhar uma pessoa, uma pessoa concretamente, essa criança, esse adolescente, esse jovem. Conhecer em que etapa do seu desenvolvimento humano ele se encontra, perguntar, escutar mais do que dar respostas prontas, não se apressar, nem tampouco, se atrasar no acompanhamento, e agir com naturalidade e amor.

Quais os modelos educativos em educação sexual na atualidade?

Olhando a realidade brasileira, encontramos poucos trabalhos de nível empírico sobre a educação sexual. Em nível teórico, ou baseado em observação e experiência de sala de aula, encontramos um número bem maior. As teorias em educação sexual no Brasil estão geralmente associadas às teorias do currículo e/ou teorias pedagógicas, que normalmente comportam uma filosofia de base. Existem três grupos diversos: as teorias tradicionais (tecnicista), as teorias críticas (de orientação marxista) e as teorias pós-críticas (ancoradas nas teorias de Michael de Foucault, Jacques Derrida e Stuart Hall).

Segundo Furlani, J., existem ao menos nove modelos de abordagem em educação sexual no Brasil. É importante observar que por trás de cada teoria do currículo, teoria pedagógica e teoria em educação sexual, existe uma ideia de sujeito como destinatário da educação e uma ideia de identidade pessoal e sexual. Diante disso devemos nos perguntar: quem é o destinatário da educação? Qual é a visão antropológica que existe como ponto de partida?

Você é a diretora nacional do programa Teen STAR. O que ele é e como pode ajudar as famílias e líderes pastorais? Que outros assuntos você irá tratar no Mutirão?

Um programa de educação a partir da sexualidade, que leva em conta a complexidade da pessoa humana, o seu desenvolvimento, em seus aspectos físicos, emocionais, sociais, intelectuais e espirituais.

O programa oferece uma formação aos educadores, para que eles, fazendo a experiência pessoal com o programa, possam aplicá-lo. Para sua aplicação, o programa oferece materiais didáticos e lúdicos, pensados com um currículo específico para as respectivas idades: 6-7 anos; 8-9 anos; 10-11 anos;12-13 anos;14-15 anos;16-17 anos; e maiores de 18 anos.

Cada currículo respeita o momento da vida em que o educando está e a pedagogia do programa. Portanto, ao aplicar o programa, o educador precisa seguir a sequência pedagógica. O ponto de partida é o aspecto físico da pessoa humana. O educando será acompanhado pelo educador Teen STAR, e este estará em diálogo com pais e responsáveis.

Aos que vão participar do mutirão, será ministrada uma sensibilização do que é o programa, serão apresentadas algumas pistas de como acontece esse processo de educação da pessoa a partir da sexualidade e a oportunidade de reflexão para os líderes presentes de reconhecerem que tipo de mentalidade eles têm sobre a sexualidade.

Que perguntas as crianças, adolescentes e jovens costumam fazer sobre sexualidade, de acordo com a sua experiência? Como responder a essas perguntas?

As perguntas são dos tipos mais variáveis possíveis. O importante não é o que perguntam, mas o que perguntam e quando perguntam o que perguntam. E aqui está um caminho aberto de relacionamento com as crianças, adolescentes e jovens. Esse será, inclusive, um dos temas do mutirão. Participe.

Que dicas você daria para os pais e líderes pastorais na escuta e acompanhamento de adolescentes e jovens?

Gastar tempo, estar atentos à tendência muito natural que temos de julgar, avaliar, aprovar ou desaprovar. Ouvir com compreensão, aberto, às vezes, para reconhecer que o outro é quem tem razão e que, talvez, eu precise mudar.

O que você gostaria de falar aos leitores do Jornal da Arquidiocese?

Gostaria de encerrar essa entrevista com algumas das palavras que usei na introdução do primeiro livro que publiquei. Bendita linguagem que permite que o discurso fique incompleto, sem início absoluto, nem ponto final definitivo. Assim gostaria de agradecer você que está lendo essa entrevista. Não tenho a pretensão de dar aqui receitas do que é a sexualidade, mas de apontar critérios, que possam solidificar o caminho educativo, que todos nós percorremos.

O programa Teen STAR é uma proposta, uma pedagogia do amor traduzido pela e na linguagem do corpo. O que faz do ser humano um ser especial é justamente esta capacidade de conhecer e conhecer-se; sua capacidade de significar; e significar-se. Se encantar e encantar-se por não ser algo, mas alguém.

Entrevista publicada no Jornal da Arquidiocese, edição 281, de agosto de 2021.

Mutirão Arquidiocesano de Formação

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