Dia Mundial do Pobres – Por Pe. José Artulino Besen

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Dia Mundial do Pobres – Por Pe. José Artulino Besen

“Não amemos com palavras, mas com obras”

“Meus filhinhos, não amemos com palavras nem com a boca, mas com obras e com verdade” (1 Jo 3, 18). Esse mandamento de Jesus transmitido ao Discípulo Amado foi escolhido por Francisco como palavra orientadora para o I DIA MUNDIAL DOS POBRES, neste ano em 19 de novembro. Um convite a deixarmos as palavras vazias, fáceis de serem proferidas e substitui-las pelas obras concretas, únicas que podem medir o que valemos, únicas que indicam nossa capacidade de responder ao amor de Deus que nos deu seu Filho. A Mensagem papal foi entregue em 13 de junho, dia de Santo Antônio, o Santo dos Pobres. Através dela, de sua riqueza, oferecemos alguns pontos de vivência e reflexão.

Quando Pedro pediu que se escolhessem sete homens “cheios de Espírito e sabedoria” (At 6, 3) que assumissem o serviço aos pobres, temos um dos primeiros sinais com que a comunidade cristã se apresentou no palco do mundo: o serviço aos mais pobres. Os discípulos de Jesus expressavam o ensinamento principal do Mestre que tinha proclamado os pobres bem-aventurados e herdeiros do Reino dos céus (cf. Mt 5, 3). «Vendiam terras e outros bens e distribuíam o dinheiro por todos, de acordo com as necessidades de cada um» (At 2, 45). Isto mostra como os cristãos tinham claro que a misericórdia não era retórica, mas necessidade concreta de partilha na primeira comunidade.

O mesmo ensinamento é dado pelo apóstolo Tiago: Ouvi, meus amados irmãos: porventura não escolheu Deus os pobres segundo o mundo para serem ricos na fé e herdeiros do Reino que prometeu aos que O amam? Mas vós desonrais o pobre. Porventura não são os ricos que vos oprimem e vos arrastam aos tribunais? (…) De que aproveita, irmãos, que alguém diga que tem fé, se não tiver obras de fé? Acaso essa fé poderá salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã estiverem nus e precisarem de alimento quotidiano, e um de vós lhes disser: “Ide em paz, tratai de vos aquecer e matar a fome”, mas não lhes dais o que é necessário ao corpo, de que lhes aproveitará? Assim também a fé: se ela não tiver obras, está completamente morta» (2, 5-6.14-17).

Houve e há momentos na história em que cristãos se deixaram contaminar pela mentalidade mundana e se apegaram às riquezas e às honras. Mas, o Espírito Santo não deixou e não deixa de chamá-los a manterem o olhar fixo no essencial: o serviço dos pobres. Nesses dois milênios, homens e mulheres se consagraram ao necessitados, criaram instituições a seu serviço, deram a vida pelos pobres e doentes. Dentre todos, lembra papa Francisco, temos o exemplo de Francisco de Assis, que foi seguido por tantos outros homens e mulheres santos, ao longo dos séculos. Dele temos a humilde confissão: “Quando estava nos meus pecados, parecia-me deveras insuportável ver os leprosos. E o próprio Senhor levou-me para o meio deles e usei de misericórdia para com eles. E, ao afastar-me deles, aquilo que antes me parecia amargo converteu-se para mim em doçura da alma e do corpo” (Test 1-3: FF 110).

No corpo chagado do pobre, a carne de Cristo.

O amor aos pobres não é apenas um ato semanal de voluntariado, de boas obras ocasionais. Ele deve abrir-nos a um verdadeiro encontro com os pobres e dar lugar a uma partilha que se torne estilo de vida. Importante: a oração, o caminho do discipulado e a conversão encontram, na caridade que se torna partilha, a prova da sua autenticidade evangélica. E deste modo de viver derivam alegria e serenidade de espírito, porque se toca com as mãos a carne de Cristo. Se realmente queremos encontrar Cristo, é preciso que toquemos o seu corpo no corpo chagado dos pobres, como resposta à comunhão sacramental recebida na Eucaristia. O Corpo de Cristo, partido na sagrada liturgia, deixa-se encontrar pela caridade partilhada no rosto e na pessoa dos irmãos e irmãs mais frágeis. Continuam de grande atualidade estas palavras do santo bispo Crisóstomo: “Queres honrar o corpo de Cristo? Não permitas que seja desprezado nos seus membros, isto é, nos pobres que não têm o que vestir, nem O honres aqui no templo com vestes de seda, enquanto lá fora O abandonas ao frio e à nudez” (Hom. in Matthaeum, 50, 3: PG 58).

Somos chamados a estender a mão aos pobres, a encontrá-los, fixá-los nos olhos, abraçá-los, para lhes fazer sentir o calor do amor que rompe o círculo da solidão. A sua mão estendida para nós é também um convite a sairmos das nossas certezas e comodidades e a reconhecermos o valor que a pobreza encerra em si mesma.

Para os discípulos de Cristo, a pobreza é, antes de mais, uma vocação a seguir Jesus pobre. A pobreza é o metro que permite avaliar o uso correto dos bens materiais e também viver de modo não egoísta nem possessivo os laços e os afetos. Identificamos o rosto do pobre e a pobreza nos inúmeros rostos marcados pelo sofrimento, pela marginalização, pela opressão, pela violência, pelas torturas e a prisão, pela guerra, pela privação da liberdade e da dignidade, pela ignorância e pelo analfabetismo, pela emergência sanitária e pela falta de trabalho, pelo tráfico de pessoas e pela escravidão, pelo exílio e a miséria, pela migração forçada. A pobreza tem o rosto de mulheres, homens e crianças explorados para vis interesses, espezinhados pelas lógicas perversas do poder e do dinheiro.

O Dia Mundial dos Pobres é a recordação da predileção de Jesus pelos pobres que, nas palavras de Paulo VI pertencem à Igreja por “direito evangélico” e obrigam à opção fundamental por eles. A parábola do Bom Samaritano é a verdade que deve percorrer toda a vida da Igreja e dos cristãos.

Benditas as mãos que se abrem para acolher os pobres e socorrê-los: são mãos que levam esperança. Benditas as mãos que superam toda a barreira de cultura, religião e nacionalidade, derramando óleo de consolação nas chagas da humanidade. Benditas as mãos que se abrem sem pedir nada em troca, sem “se” nem “mas”, nem “talvez”: são mãos que fazem descer sobre os irmãos a bênção de Deus.

O serviço da caridade une-se ao serviço da oração. Não esqueçamos que o Pai-Nosso é a oração dos pobres. De fato, o pedido do pão exprime o abandono a Deus nas necessidades primárias da nossa vida. Tudo o que Jesus nos ensinou com esta oração exprime e recolhe o grito de quem sofre pela precariedade da existência e a falta do necessário. Aos discípulos que Lhe pediam para os ensinar a rezar, Jesus respondeu com as palavras dos pobres que se dirigem ao único Pai, em quem todos se reconhecem como irmãos. O Pai-Nosso é uma oração que se exprime no plural: o pão que se pede é “nosso”, e isto implica partilha, comparticipação e responsabilidade comum.

Papa Francisco insiste: Os pobres não são um problema: são um recurso de que lançar mão para acolher e viver a essência do Evangelho.

Por Pe. José Artulino Besen

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