Apresentação do Arcebispo para o livro -“Fenômenos Preternaturais: sobre as ações dos anjos e dos demônios”

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Apresentação do Arcebispo para o livro -“Fenômenos Preternaturais: sobre as ações dos anjos e dos demônios”

Apresentação

O lançamento da presente obra vem ao encontro de uma angústia do nosso tempo. Falta uma reflexão mais profunda sobre a ação do demônio na vida do ser humano. Por várias razões, este assunto foi relegado ao esquecimento. O orgulho do modernismo atual quis sepultar a existência do demônio e sua ação no mundo. Não é exagero dizer que este esquecimento trouxe um grande prejuízo para a vida dos cristãos e para a caminhada da Igreja. Até o ensinamento do Concílio Vaticano II foi usado para afirmar que era obscurantismo ocupar-se com o demônio e suas obras. Paulo VI, em uma homilia no dia 29 de junho de 1972, dizia: “Por alguma fresta entrou a fumaça de satanás no templo de Deus… querendo sufocar os frutos do Concílio”.

São muitas as pessoas que procuram a Igreja para buscar ajuda porque padecem de males provocados pelo demônio. Com muita facilidade se estabelece um diagnóstico de patologia psicológica ou fruto de superstição. A atitude irônica ou de incredulidade manifesta, tão somente, o despreparo de grande número de sacerdotes para lidar com tais situações. Na realidade, há um grande número de pessoas que padecem de um mal real ou presumido, mas com grande desejo de serem acolhidas. Pode-se afirmar que esta atitude de distanciamento ajuda a abrir a estrada que leva aos “magos” que podem ser encontrados a cada esquina.

A citação de algumas passagens bíblicas mostra como a ação de Cristo e da Igreja está ligada à figura do diabo. “Cristo passou pelo mundo fazendo o bem e curando todos os oprimidos pelo demônio” (At 10,38). “Pela sua morte, Cristo destruiu aquele que tinha poder sobre a morte, isto é, o diabo” (Hb 2,14). “O diabo anda em volta como um leão que ruge, procurando a quem devorar” (1Pd 5,8). Desde os tempos apostólicos, a Igreja exerceu o poder que recebeu de Cristo de expulsar os demônios e repelir sua influência (cf. At 5,16; 8,7; 16,8; 19,12). Em nome de Cristo e por força do Espírito Santo, a Igreja ordena aos demônios que não impeçam a obra da evangelização (cf. 1Ts 2,18). São Paulo fala de arrancar os seres humanos do poder das trevas e transferi-los para o Reino de Cristo (Gl 4,5; Cl 1,13).

A identidade de Jesus e a salvação que Ele veio trazer não podem ser compreendidas se não se leva em consideração a existência do diabo e seus demônios. Jesus veio para livrar o homem do pecado, da morte e do diabo. Esta realidade está tão presente no Novo Testamento, que se for retirada, tudo muda de sentido. Crer que Jesus não combateu Satanás é crer em um Jesus diferente daquele apresentado pelo Evangelho.

Em muitas passagens do Evangelho é descrita a atuação de Jesus como exorcista (cf. Mc 1,21-28; Lc 11,14; Mt 9,32ss). Jesus apresenta esta atividade como prova da sua identidade e da presença do Reino de Deus (cf. Mt 12,28). O Evangelho de Marcos apresenta um esquema de exorcismo, que será seguido pelo ritual da Igreja:

a) o demônio se manifesta em uma pessoa;

b) Jesus ameaça e manda o espírito sair da pessoa (manifesta a natureza violenta do demônio);

c) o demônio sai (cf. Mc 1, 21 – 28). É a palavra de Jesus que faz com que os demônios saiam dos possessos. Este poder, Jesus dá aos discípulos (cf. Mc 6,7). Expulsar os demônios será um sinal pelo qual serão reconhecidos como discípulos (cf. 16,15). É pedido ao discípulo a fé e a prática da virtude. A oração é apresentada como condição indispensável para a eficácia de certas curas (cf. Mc 9,28-29). O discípulo realiza o exorcismo sempre em nome de Jesus (cf. 16,18).

O Catecismo da Igreja Católica define o exorcismo como o pedido público da Igreja, que com autoridade e em nome de Cristo, pede a Deus que uma pessoa ou objeto seja protegido contra a influência do maligno e subtraído ao seu domínio. (cf. 1673). A Igreja recebeu o poder e o encargo de exorcizar. Aproveito para recolher alguns pensamentos expressos pelo Papa Francisco na sua homilia na Capela Santa Marta no dia 13 de outubro de 2013. Ele comentava o Evangelho de Lc 11,15-26, onde Jesus expulsa um demônio mudo. O Papa começa advertindo que não devemos fazer negócios com o diabo e se deve levar a sério os perigos que derivam da sua presença no mundo. O Pontífice comenta ainda a reação dos presentes à cena. Acusam Jesus de magia. Diz o Papa: “também hoje existem sacerdotes que quando leem este e outros trechos do Evangelho, dizem que Jesus curou uma pessoa de doença psíquica. Sem dúvida, é verdade que naquela época era possível confundir epilepsia com possessão  do demônio, mas também a presença dele era verdadeira. E nós não temos o direito de simplificar a questão.

O livro “Fenômenos Preternaturais” fala das ações dos anjos e dos demônios. Apresenta o ensinamento da Igreja sobre a existência e ação do demônio no mundo. Pode ser encontrado o que pensavam alguns papas a respeito deste assunto. De uma forma bastante abrangente expõe os aspectos bíblicos e espirituais sobre a demonologia. Aborda a diferença que existe entre possessão diabólica e doença psíquica. E se estende sobre a prática pastoral de vários experientes exorcistas. Enriquecedora é a apresentação de farto material nos anexos. Em suma, é uma obra que possibilita o conhecimento dos principais ensinamentos sobre os demônios, a possessão diabólica, o discernimento na prática pastoral. É um valioso instrumento que é colocado em nossas mãos.

 

Por: Arcebispo de Florianópolis – Dom Wilson Tadeu Jönck, scj,

 

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